Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
-----------------------------CAPÍTULO I -----------------------------<<strong>br</strong> />
- Então é a primeira vez que você anda cá por cima? - perguntou o piloto,<<strong>br</strong> />
recostando-se na sua ca<strong>de</strong>ira e fazendo-a oscilar so<strong>br</strong>e as articulações. Cruzou as<<strong>br</strong> />
mãos so<strong>br</strong>e a nuca numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>masiado <strong>de</strong>sleixada para que pu<strong>de</strong>sse inspirar<<strong>br</strong> />
alguma confiança ao seu passageiro.<<strong>br</strong> />
- Sim - disse Martin Gibson, sem tirar os olhos do seu cronômetro.<<strong>br</strong> />
- Era o que eu pensava. Você erra sempre em qualquer coisa nas suas histórias -<<strong>br</strong> />
por exemplo: aquele disparate <strong>de</strong> as pessoas <strong>de</strong>smaiarem quando submetidas à<<strong>br</strong> />
aceleração. Porque é que há pessoas que escrevem coisas <strong>de</strong>ssas? Não parece a<<strong>br</strong> />
melhor maneira <strong>de</strong> fazer fortuna.<<strong>br</strong> />
- Tenho muita pena - respon<strong>de</strong>u Gibson. - Mas creio que você está a referir-se às<<strong>br</strong> />
minhas primeiras histórias. Naquela época as viagens através do espaço ainda nem<<strong>br</strong> />
sequer tinham <strong>com</strong>eçado e eu tinha <strong>de</strong> fazer uso da minha imaginação.<<strong>br</strong> />
- Talvez - disse o piloto, <strong>de</strong> má vonta<strong>de</strong>. (Não estava dando a mínima atenção aos<<strong>br</strong> />
instrumentos e faltavam apenas dois minutos para a largada.) - É curioso que isto<<strong>br</strong> />
seja uma novida<strong>de</strong> para você <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter escrito tantas vezes so<strong>br</strong>e o assunto.<<strong>br</strong> />
Talvez a palavra «curioso» não fosse a mais a<strong>de</strong>quada, pensou Gibson, mas<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>preen<strong>de</strong>u o que o piloto queria dizer. Dúzias dos seus heróis - e vilões - tinham<<strong>br</strong> />
fitado hipnotizados os impiedosos ponteiros dos segundos, esperando que os<<strong>br</strong> />
foguetes os lançassem no infinito. E agora - <strong>com</strong>o era vulgar acontecer sempre que<<strong>br</strong> />
alguém esperava o tempo suficiente - a realida<strong>de</strong> viera ao encontro da ficção.<<strong>br</strong> />
Naquele momento faltavam apenas noventa segundos para o seu próprio futuro.<<strong>br</strong> />
Sim, <strong>de</strong> fato era curioso, um belo caso <strong>de</strong> justiça poética.<<strong>br</strong> />
O piloto olhou para ele, <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>u os seus sentimentos e sorriu alegremente.<<strong>br</strong> />
- Não <strong>de</strong>ixe que as suas próprias histórias o assustem. Uma vez, por causa <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />
aposta, quis aguentar a largada <strong>de</strong> pé, mas foi um disparate.<<strong>br</strong> />
- Não tenho medo - respon<strong>de</strong>u Gibson, <strong>com</strong> um ardor <strong>de</strong>snecessário.<<strong>br</strong> />
- Hum... - disse o piloto, con<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ndo em olhar para o relógio. O ponteiro dos<<strong>br</strong> />
segundos ainda tinha um circuito a ligar. - Nesse caso eu não estaria agarrado ao<<strong>br</strong> />
assento <strong>com</strong>o você está. É <strong>de</strong> uma liga <strong>de</strong> berílio e manganês. Acabará entortando-o.<<strong>br</strong> />
Gibson acalmou-se disfarçadamente. Sabia que estava reagindo perante a situação<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong> uma maneira falsa, mas nem por isso as suas reações eram menos reais.<<strong>br</strong> />
- Evi<strong>de</strong>ntemente! - disse o piloto, mantendo-se calmo, mas, <strong>com</strong>o Gibson notou,<<strong>br</strong> />
fixando os seus olhos no painel dos instrumentos. - Não seria muito agradável se<<strong>br</strong> />
durasse mais <strong>de</strong> alguns minutos - ah, aí estão as bombas do propulsante. Não se<<strong>br</strong> />
preocupe quando o <strong>de</strong>slocamento vertical <strong>com</strong>eçar a fazer das suas, mas <strong>de</strong>ixe o<<strong>br</strong> />
assento mover-se à vonta<strong>de</strong>. Feche os olhos se isso lhe fizer bem. (Está ouvindo os<<strong>br</strong> />
ignidores?) Demoraremos <strong>de</strong>z segundos até atingirmos a força máxima. Agora é