Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br

- Oh, como de costume. Muito trabalho e pouco tempo para nos divertirmos. A<br />
grande novidade, neste momento é a grande redoma que estamos construindo em<br />
Lowell. Trezentos metros de altura - até parece que voltamos à Terra. Gostaria de<br />
saber se poderemos colocar lá dentro nuvens e chuva.<br />
- Que foi que aconteceu em Phobos? - perguntou Gibson, ansioso por notícias, -<br />
causou-nos muitos problemas.<br />
- Não creio que seja qualquer coisa importante. Ninguém parece saber exatamente<br />
do que se trata, mas lá há uitas pessoas construindo um laboratório. Suponho que<br />
Phobos vai ser uma estação de investigação pura e não querem que as grandes<br />
naves de transporte perturbem os instrumentos deles.<br />
Gibson ficou desapontado ao ver desabar algumas das suas mais interessantes<br />
teorias. Se ele não estivesse tão interessado no planeta que se aproximava, talvez<br />
tivesse apreciado de uma maneira mais crítica a explicação, mas naquele momento<br />
sentiu-se satisfeito e não pensou mais no assunto.<br />
Marte estava a menos de mil quilômetros e Gibson voltou toda a sua atenção à<br />
passagem, que se expandia em baixo. Passaram rapidamente sobre o equador,<br />
desceram até às camadas exteriores da espessa mas muito tênue atmosfera do<br />
planeta e por fim Marte deixou de ser um globo flutuando no espaço. Surgiram os<br />
desertos e os oásis; o Syrtis Major passou debaixo deles antes que Gibson tivesse<br />
tempo para reconhecê-lo. Estavam a cinquenta quilômetros de altitude quando<br />
tiveram o primeiro indicio de que o ar estava se tornando mais denso. Um silvo<br />
distante, que não parecia vir de parte alguma, começou a encher a cabine. A<br />
aceleração negativa aumentava à medida que a velocidade do trasbordador diminuia.<br />
O assobio tomou-se pouco a pouco mais forte, até que a conversação normal teria<br />
sido impossível.<br />
Tudo isso pareceu demorar muito tempo, apesar de na verdade só ter demorado<br />
uns minutos. Por fim o uivo do vento desapareceu completamrente. O transbordador<br />
perdera o seu excesso de velocidade graças à fricção atmosférica. O material<br />
refratário do seu nariz e das asas começaram a arrefecer, perdendo a sua<br />
luminosidade rubra. Já não era uma nave, mas um simples planador de alta<br />
velocidade, que voava a menos de mil quilômetros por hora em direção a Port Lovell.<br />
Gibson avistou primeiro o povoado como uma pequena mancha branca no<br />
horizonte, contra o fundo negro do Aurorae Sinus. Quando o tranrsbordador se<br />
inclinou, numa viragem, o escritor viu por momentos meia dúzia de redomas muito<br />
grandes, juntas entre si. Depois o chão veio ao encontro do aparelho, houve uma<br />
série de saltos suaves e a máquina rolou suavemente até parar.<br />
Estava em Marte. Chegara àquilo que, para os homens da antiguidade, fôra uma<br />
luz vermelha que se movia através dos céus; que para os homens de havia apenas<br />
um século, fôra um mundo misterioso e absolutamente inatingível- e que agora era a<br />
fronteira da Humanidade<br />
- Que grande comissão de recepção! - observou o piloto – Toda a frota de<br />
transporte veio nos ver. Não sabia que tínhamos tantos veículos no serviço.<br />
Duas pequenas máquinas atarracadas com pneumáticos de enorme secção corriam<br />
ao encontro deles. Ambas tinham uma cabine pressurizada, suficientemente grande<br />
para conter dois homens, mas uma dúzia de passageiros conseguira agarrar-se aos<br />
pequenos veiculos. Atrás deies vinham dois grandes caminhões de rodas e rastro<br />
continuo, também cheios de espectadores. Gi'bson não esperava tanta gente e<br />
começou a compor um pequeno discurso.<br />
- Creio que ainda não sabem usar isto - disse o piioto, apresentando-lhes duas