Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br

O Diretor-Geral manteve-se silencioso por um momento. Depois respondeu num<br />
tom calmo:<br />
- Não falei na possibilidade de os homens se adaptarem a Marte. Pensou alguma<br />
vez na possibilidade de Marte vir ao nosso encontro?<br />
Deixou a Gibson o tempo suiciente para absorver as palavras, e depois, antes que<br />
o visitante pudesse ordenar as perguntas que saltavam no seu cérebro, pôs-se de<br />
pé.<br />
- Bem, espero que Whittaker trate de si e lhe mostre tudo quanto quiser.<br />
Compreende que a situação dos transportes é bastante apertada, mas mesmo assim<br />
levá-lo-emos a todos os postos avançados, se nos der tempo para tratar disso. Se<br />
houver alguma dificuldade, diga-me.<br />
Era uma maneira cortês de fazê-lo retirar-se. O homem mais atarefado de Marte<br />
dera a Gibson uma generosa porção do seu tempo e as perguntas do escritor teriam<br />
de aguardar outra oportunidade.<br />
- Que pensa do Chefe, agora que o viu? - perguntou o Mayor Wihitaker quando<br />
Gibson voltou para a antecâmara.<br />
- Foi muito agradável e prestimoso, Tem um grande entusiasmo por Marte, não<br />
tem?<br />
Whittaker torceu os lábios,<br />
- Não direi que seja assim. Acho que ele considera Marte um inimigo que tem de<br />
ser batido. Acontece o mesmo com todos nós, mas ele tem mais razões para isso.<br />
Sabe o que aconteceu à sua mulher, não é verdade?<br />
- Não.<br />
- Foi uma das primeiras pessoas a morrer da febre marciama, dois anos depois de<br />
ter chegado aqui.<br />
- Oh! - exclamou Gibson. - Compreendo. Suponho que seja uma das razões por<br />
que fizeram um esforço tão grande para encontrar a cura.<br />
- Sim. O Chefe preocupou-se muito com isso. Além do que prejudica muito os<br />
nossos recursos, Não podemos dar-nos ao luxo de adoecermos aqui!<br />
A última frase foi dita quando ele atravessava a Broadway - a Rua Larga -, assim<br />
chamada porque tinha quinze metros de largura - expunha precisamente a situação<br />
da colônia, Gibson ainda sentia o choque que recebera ao ver quanto Port Lowell era<br />
pequeno e como lhe faltavam os luxos a que ele se habituara na Terra. Com as suas<br />
filas de casas metálicas, iguais umas às outras, e os poucos edifícios públicos, aquilo<br />
era mais um acampamento militar que uma cidade, ainda que os habitantes tivessem<br />
feito o possivel para alegrar o ambiente com flores terrestres. Algumas tinham<br />
atingido um tamanho impressionante, por causa da menor gravidade, e Oxford<br />
Circus estava engalanada com girassóis que tinham três vezes altura de um homem.<br />
Gibson continuou o seu caminho até alcançar Marble Arch - o ponto de junção<br />
entre as redomas um e dois.<br />
Era aqui que se encontrava colocado estratégicamene o único bar de Marte o<br />
«George's».<br />
- Bom dia, Mr. Gibson - disse George, - Espero que o Chefe estivesse bem<br />
disposto.<br />
Como deixara o edifício da administração apenas dez minutos antes, Gibson notou<br />
que as notícias ali andavam muito depressa. Rapidamente veria que era de fato<br />
assim, e que a maior parte delas parecia passar por George.<br />
Goorge era uma figura curiosa. Como os taberneiros eram olhados como<br />
relativamente, mas não essencialmente, necessários ao bem estar da povoação, ele