Arthur C. Clarke - Areias de Marte.pdf - Mkmouse.com.br
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nos preocupamos quando acontecem essas coisas? Po<strong>de</strong>m ter a certeza <strong>de</strong> que a<<strong>br</strong> />
reação popular será: «Se foi um pequeno também podia ser um gran<strong>de</strong>.» E vocês já<<strong>br</strong> />
não estão vendo os títulos?: «A Ares arrombada por um meteoro!» Que bela coisa<<strong>br</strong> />
para o negócio!<<strong>br</strong> />
- Então porque é que não contamos tudo a Martin e pedimos para que ele não<<strong>br</strong> />
diga nada?<<strong>br</strong> />
- Não seria justo. O po<strong>br</strong>e homem não tem novida<strong>de</strong>s para os seus artigos há<<strong>br</strong> />
semanas,<<strong>br</strong> />
- Muito bem, A i<strong>de</strong>ia é tua - disse Hilton. - Não me culpes se ela falhar.<<strong>br</strong> />
- Nem pensar nisso. Não há qualquer possibilida<strong>de</strong>.<<strong>br</strong> />
Gibson sentira-se sempre fascinado pelas engenhocas e o traje espacial era mais<<strong>br</strong> />
um mecanismo para acrescentar à coleção daqueles que investigara e apren<strong>de</strong>ra a<<strong>br</strong> />
manejar. Esquecera-se <strong>de</strong> que as escafandros da Ares não tinham pernas e que<<strong>br</strong> />
quem os envergava se limitava a ficar <strong>de</strong> pé <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>les, Era uma i<strong>de</strong>ia sensata,<<strong>br</strong> />
uma vez que tinham sido construidos para trabalhar numa situação <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
peso e não para caminhar na superficie <strong>de</strong> planetas sem ar. A ausência das juntas<<strong>br</strong> />
flexiveis das pernas simplificava muito o seu <strong>de</strong>senho e os escafandros não eram<<strong>br</strong> />
mais do que ciindros <strong>com</strong> um tampo <strong>de</strong> perspex, do qual saíam <strong>br</strong>aços articulados.<<strong>br</strong> />
Aos lados havia relevos e hastes misteriosas: o equipamento <strong>de</strong> ar condicionado,<<strong>br</strong> />
rádio, regulação <strong>de</strong> calor e propulsão. A liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentos no interior do<<strong>br</strong> />
esafandro era gran<strong>de</strong>: podia-se retirar os <strong>br</strong>aços do interior das «mangas» para<<strong>br</strong> />
acionar os <strong>com</strong>andos internos e até para tomar uma pequena refeição, sem muitas<<strong>br</strong> />
acrobacias.<<strong>br</strong> />
Bradley passara cerca <strong>de</strong> uma hora na <strong>com</strong>porta <strong>de</strong> ar, certificando-se <strong>de</strong> que<<strong>br</strong> />
Gibson <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>ra o manejo dos <strong>com</strong>andos principais. Tudo correu bem até o<<strong>br</strong> />
momento em que Bradley <strong>com</strong>eçou a explicar o funcionamento das primitivas<<strong>br</strong> />
instalações sanitárias do escafandro.<<strong>br</strong> />
- Um momento: - protestou o escritor. - Com certeza que não ficaremos lá fora o<<strong>br</strong> />
tempo suficiente para termos necessida<strong>de</strong> disso!<<strong>br</strong> />
Bradley sorriu e respon<strong>de</strong>u:<<strong>br</strong> />
- Ficaria surpreendido se soubesse quantas pessoas já cairam nesse erro. A<strong>br</strong>iu um<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>partimento na pare<strong>de</strong> da <strong>com</strong>porta e tirou <strong>de</strong>la dois rolos <strong>de</strong> fio. Ligou-os a um<<strong>br</strong> />
suporte nos trajes, <strong>de</strong> maneira que não podiam ser aci<strong>de</strong>ntalmente soltos.<<strong>br</strong> />
- Precaução <strong>de</strong> Segurança Número Um - disse ele. - Ter Sempre um cabo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />
segurança preso à nave. As regras fizeram-se para serem ignoradas, mas esta não.<<strong>br</strong> />
Para que a segurança seja dupla, ligarei o teu traje ao meu <strong>com</strong> <strong>de</strong>z metros <strong>de</strong> fio. E,<<strong>br</strong> />
agora vamos...<<strong>br</strong> />
A porta exterior a<strong>br</strong>iu-se. Gibson sentiu o último vestigio <strong>de</strong> ar afastar-se <strong>de</strong>le. O<<strong>br</strong> />
fraco impulso assim recebido arrastou-o para a saída e ele viu-se flutuando<<strong>br</strong> />
suavemente em direção às estrelas.<<strong>br</strong> />
A lentidão do movimento e o silêncio absoluto tornavam aquela ocasião<<strong>br</strong> />
profundamente impressionante. A Ares afastava-se atrás <strong>de</strong>le <strong>com</strong> uma<<strong>br</strong> />
inevitabilidal<strong>de</strong> terrivel. Gibson mergulhava no espaço - o verda<strong>de</strong>iro espaço,<<strong>br</strong> />
finalmente - e o seu único elo <strong>com</strong> a segurança era o tênue fio que se <strong>de</strong>senrolava<<strong>br</strong> />
atrás <strong>de</strong>le.<<strong>br</strong> />
A fricção do carretel já amortecera o seu impulso quando a corda que o ligava a<<strong>br</strong> />
Bradley recebeu um esticão. Quase esquecera o seu <strong>com</strong>panheiro, que estava se<<strong>br</strong> />
afastando da nave <strong>com</strong> os pequenos jatos <strong>de</strong> gás montados na base do seu<<strong>br</strong> />
escafandro, rebocando Gibson.