A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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enfim o bom senso de nossos lavradores; e em quase to<strong>da</strong>s as<br />
comarcas <strong>da</strong> Província, ou se ensaiam, ou já se acham bem<br />
montados estabelecimentos <strong>da</strong> nova cultura sendo esta revolução<br />
industrial principalmente em favor <strong>da</strong> plantação <strong>da</strong> cana<br />
e frabrico do açúcar. (Franco de Sá, 1847: 57) (g.n.)<br />
Ferreira Penna dois anos depois vai registrar os engenhos de cana que<br />
foram levantados nas Comarcas de Alcântara, Guimarães e Viana e afirmar,<br />
numa estimativa, que em três anos a Província teria o açúcar<br />
necessário para todo o seu consumo, como já tinha o aguardente (Ferreira<br />
Penna, 1849: 41).<br />
Ademais os trabalhadores livres, objeto de colonização, são ressalvados<br />
como os mais adequados aos novos estabelecimentos<br />
agro-industriais. Isto do ponto de vista de inúmeros lavradores ilustrados,<br />
conquanto concordes com as teorias do liberalismo econômico, que<br />
levantam graves restrições ao emprego de escravos e propugnam o fim<br />
do trabalho servil.<br />
Reside justamente aqui a ambigüi<strong>da</strong>de que envolve esta noção de<br />
colonização em pauta. Do ponto de vista dos grandes proprietários de<br />
terras e nota<strong>da</strong>mente <strong>da</strong>queles que se empenharam na reativação <strong>da</strong><br />
lavoura canavieira os “colonos” são representados como “trabalhadores<br />
de campo” remunerados a “jornal”, to<strong>da</strong>via a incorporação destes “colonos”<br />
ao processo produtivo, numa situação de abundância de terras<br />
disponíveis, onde lhes é facultado possuir suas próprias condições de<br />
trabalho, não parece realizável naturalmente pelo trabalho assalariado.<br />
Vender a força de trabalho não parece constituir-se numa saí<strong>da</strong> provável<br />
e única para os produtores numa situação em que é factível o acesso<br />
aos meios de produção, <strong>da</strong>do ao grande estoque de terras não ocupa<strong>da</strong>s<br />
efetivamente. 58 Instaura-se pois, um impasse: os “colonos” serão trabalhadores<br />
assalariados ou pequenos produtores autônomos?<br />
No Regulamento para reger a incorporação dos “colonos”, citado<br />
por E. O. Machado em 1852, as duas alternativas são previstas como viáveis:<br />
Os colonos deverão constituir-se ou formando colônias parciais<br />
ou como simples trabalhadores de campo a que se pague um jor-<br />
58. Cf. Marx, Karl. La théorie moderne de la colonisation. In: Le Capital critique de<br />
l'economie politique. Livre Premier. Tome Troisième. Paris. Édtions Sociales, 1973, pp.<br />
206-215 (traduction de Joseph Roy).<br />
A ideologia <strong>da</strong> decadência · 101