A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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este o meio de suprir a falta que deles todos os dias vai sentindo<br />
progressivamente a sua lavoura. (Cruz Machado, 1856:<br />
51) (g.n.) 46<br />
Em uma palavra, esta formulação, como as que a precedem persiste na<br />
autoevidência como regra que orienta a explicação. Os documentos analisados<br />
comportam-se como narrativas tradicionais que vão estabelecendo<br />
uma seqüência lógica e, aparentemente, irretorquível entre fatos que prescindem<br />
de demonstração. E são eles que acabam por se impor à história<br />
regional compondo um esquema de interpretações ancorado nas pretensas<br />
obvie<strong>da</strong>des.<br />
Esta regra que permeia a subdivisão dos Relatórios e Fallas denomina<strong>da</strong><br />
Colonização, em que se desenvolvem as reflexões relativas à<br />
medi<strong>da</strong> provedora enfoca<strong>da</strong>, equipara-a às demais partes que integram<br />
o corpo dos documentos oficiais. O tópico que atende pelo título de<br />
Colonização surge na narrativa segundo várias formas de encadeamento<br />
com a correspondente “falta”, regi<strong>da</strong>s pelas premissas que definem<br />
esta última.<br />
A Colonização é representa<strong>da</strong> como sendo uma política, que visa<br />
organizar e aplicar medi<strong>da</strong>s várias, que convergem para prover a agricultura<br />
de um potencial de mão-de-obra capaz de suprir<br />
simultaneamente algumas <strong>da</strong>s deficiências registra<strong>da</strong>s, quando se pensa<br />
a decadência. Assim, ela constitui uma proposição pensa<strong>da</strong> como a<br />
mais conveniente para responder à deman<strong>da</strong> em termos quantitativos<br />
<strong>–</strong> recrutar o número necessário de “colonos”, que é como são designados<br />
os “braços” <strong>–</strong> e, em termos de quali<strong>da</strong>de, ou seja, estabelecendo<br />
“colonos europeus” 47 e “colonos estrangeiros”, 48 que, por suposto, possuem<br />
atributos técnicos suficientes e adequados para preencher as<br />
necessi<strong>da</strong>des intrínsecas de conhecimento de novos métodos de cultivo,<br />
considerados os mais racionais.<br />
No contexto <strong>da</strong> resolução dos impasses que se colocam ao desenvolvimento<br />
<strong>da</strong> agricultura,“fonte principal, senão a única <strong>da</strong>s ren<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />
província”, 49 a Colonização constitui certamente um dos itens mais substanciais<br />
dos Relatórios. Sob este prisma é apresenta<strong>da</strong> como uma<br />
46. Cf. Relatório Cruz Machado, 1856, op. cit., p. 51.<br />
47. Vide Relatório Cruz Machado, 1856 Ibid., pp. 52-56.<br />
48. Vide Relatório E. O. Machado, 1851 Ibid.<br />
49. Vide Relatório Cruz Machado, 1856 Ibid., p. 74.<br />
A ideologia <strong>da</strong> decadência · 95