A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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O presente livro aparentemente estaria fora desta coleção. Em<br />
ver<strong>da</strong>de, cinge-se a uma introdução crítica a ela, polemizando com instâncias<br />
de consagração e com os padrões de explicação que instituíram.<br />
Ele não usufrui de qualquer reconhecimento oficial que não seja esta<br />
dissonância. A escolha incide justamente neste aspecto crítico. Privilegia-o<br />
ademais, porquanto os editores consideram que não teria sentido<br />
simplesmente reeditar livros, sem procurar contextualizá-los e reinterpretá-los<br />
na trama <strong>da</strong>s relações sociais em que foram produzidos e nas<br />
classificações de que são objeto no presente. Insistimos nesta abertura <strong>da</strong><br />
coleção, que relativiza os denominados pantheons e que coloca novas<br />
condições de possibili<strong>da</strong>de à construção de objetos de pesquisa. Acreditamos<br />
que é insuficiente somente aduzir notas biobibliográficas prévias<br />
às reedições, à molde de verbetes e textos encomiásticos, como vem sendo<br />
feito por coleções patrocina<strong>da</strong>s por sucessivos man<strong>da</strong>tários estaduais,<br />
como Coleção São Luís (1970-72) e Maranhão Sempre (2000-2002), ou<br />
por grandes grupos empresariais como Documentos Maranhenses (1984).<br />
Organiza<strong>da</strong>s na última déca<strong>da</strong> por comentadores regionais tais coleções<br />
limitam-se a reedições ou a primeiras edições brasileiras, tão somente<br />
endossando as classificações prevalecentes. Ao objetivar resgatar títulos<br />
consagrados de épocas pretéritas, consideram que eles são autoevidentes,<br />
ou seja falam por si só e dispensam explicações ou análises críticas.<br />
Os comentadores frigorificam os textos, tal como já sucedera com seus<br />
autores, como se as uni<strong>da</strong>des discursivas se mantivessem constantes,<br />
alheias à dinâmica <strong>da</strong>s representações sociais sobre elas, e não pudessem<br />
ser reinterpreta<strong>da</strong>s, re-classifica<strong>da</strong>s e dota<strong>da</strong>s de sentidos outros que não<br />
aqueles originais. O livro para eles é mais um discurso pronto, acabado<br />
e tornado peça inerte ou de sentido ornamental na coleção de bibliófilos<br />
e de colecionadores. Na<strong>da</strong> teria de um argumento dinamicamente<br />
recolocado, passível de ser criticado e destituído do peso que historicamente<br />
lhe foi imputado.<br />
Por discor<strong>da</strong>rmos desta abor<strong>da</strong>gem oficialista foi que elegemos<br />
uma interpretação crítica como ponto de parti<strong>da</strong>, colocando em xeque<br />
a noção de clássico e sua permanência. Tal escolha implica em desdizer<br />
critérios de classificação cristalizados na vi<strong>da</strong> intelectual regional e em<br />
duvi<strong>da</strong>r dos padrões de explicação deles decorrentes. Trata-se de colocar<br />
em pauta o princípio <strong>da</strong> autonomia na produção intelectual, posto<br />
que tanto no período colonial ela revelava-se subordina<strong>da</strong> aos ditames<br />
<strong>da</strong> casa real, quanto no presente as coleções tem sido tributárias de<br />
8 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>