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A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

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armar, por assim dizer, os prolegômenos imprescindíveis a seu entendimento<br />

e para uma sua explicação que supõem a mais acura<strong>da</strong>.<br />

A trajetória de construção desta origem pressupõe uma ação<br />

retrocessiva cronologicamente, que elege um intervalo de tempo indeterminado<br />

mediante a utilização de uma <strong>da</strong>tação delimitadora. A <strong>da</strong>ta<br />

mais remota que é aciona<strong>da</strong> nos documentos, neste contexto, o ano de<br />

1755, encerra uma peculiari<strong>da</strong>de. A própria escolha desta <strong>da</strong>ta e a razão<br />

de seu destaque para efeito de clivagem se prendem aparentemente ao<br />

seguinte princípio: para bem se explicar um evento deve-se partir <strong>da</strong><br />

referência a um seu contrário tomado como contraponto.<br />

A origem <strong>da</strong> decadência seria, por conseguinte, pensa<strong>da</strong> a partir<br />

de uma outra situação, aquela denomina<strong>da</strong> de prosperi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> agricultura<br />

e, por extensão, <strong>da</strong> província. Sua delimitação cronológica se<br />

inscreve dentro de um exercício de tentar fazê-la entendi<strong>da</strong> pelo concurso<br />

de uma sua possível negação. Assim sendo, a escolha de um<br />

período considerado de prosperi<strong>da</strong>de, oposto extremo <strong>da</strong> cita<strong>da</strong> decadência,<br />

orienta e conduz ao intervalo de tempo ponto de parti<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

explicação: a chama<strong>da</strong> “i<strong>da</strong>de de ouro <strong>da</strong> lavoura <strong>da</strong> província.” Sem<br />

entrar no mérito de que a decadência encontra-se sempre atrela<strong>da</strong> ao<br />

tempo presente de quem a ela se refere e de que a utilização do recurso<br />

explicativo estimula uma idealização do passado, vale transcrever<br />

um excerto do Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial,<br />

em sessão ordinária de 1856, pelo Presidente <strong>da</strong> Província do<br />

Maranhão, Comen<strong>da</strong>dor Antonio Cândido <strong>da</strong> Cruz Machado:<br />

A i<strong>da</strong>de de ouro <strong>da</strong> lavoura desta província <strong>da</strong>ta do estabelecimento<br />

<strong>da</strong> Companhia de Comércio do Estado do Gram-Pará e<br />

Maranhão, cujos estatutos foram aprovados pelo alvará de 7 de<br />

tema decadência”, publicado na revista Humboldt n.º 44 de 1981, Paul Widmer assevera<br />

que as representações de decadência guiam-se por um ideal que se projeta no passado,<br />

sendo difícil um consenso sobre seu significado.<br />

“Nos fins do século xviii Kant considerava a queixa de que o mundo ia mal como<br />

sendo afinal tão velha quanto a própria história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. Todos faziam começar<br />

a história por uma i<strong>da</strong>de de ouro ou um estado paradisíaco. A felici<strong>da</strong>de, porém,<br />

volatilizava-se depressa e a corrupção infiltrava-se à socapa na harmonia original, acelerando<br />

de tal modo a decadência que, segundo os profetas catastrofistas, o mundo<br />

estaria à beira do fim. A opinião contrária, por seu lado, a convicção de que o mundo<br />

progrediria contínua e precisamente em sentido inverso, isto é, para melhor, era mais<br />

moderna e quase só adota<strong>da</strong> por filósofos e pe<strong>da</strong>gogos.” (Widmer, 1981:02) (g.n.)<br />

A ideologia <strong>da</strong> decadência · 67

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