A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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O próprio sistema escravocrata era implicitamente representado,<br />
no contexto do Relatório de 1856 e de inúmeros outros que o<br />
sucederam imediatamente, como um empecilho ao desenvolvimento<br />
<strong>da</strong>s forças produtivas. Numa alusão possível a uma expansão especificamente<br />
capitalista os administradores propugnavam o estímulo à<br />
colonização e às formas de incorporação <strong>da</strong> “população livre” considera<strong>da</strong><br />
marginal ao sistema produtivo. Referiam-se aos “colonos livres”<br />
inspirados em exemplos de nações onde existem códigos que regulamentam<br />
as condições de rescisão de contratos. Esta formulação<br />
reaparecerá na vi<strong>da</strong> intelectual <strong>da</strong> província, de uma forma mais acaba<strong>da</strong><br />
e refina<strong>da</strong>, a partir de 1875 com as proposições difundi<strong>da</strong>s pelo<br />
Jornal <strong>da</strong> Lavoura <strong>–</strong> período de doutrina e propagan<strong>da</strong> agrícola, que<br />
congregava inúmeros produtores intelectuais regionais, com formação<br />
acadêmica em universi<strong>da</strong>des européias, preocupados com a implantação<br />
de uma agricultura racional e mecaniza<strong>da</strong>.<br />
Ao explicar o passado do prisma <strong>da</strong>s idéias prevalecentes no seu<br />
presente os intérpretes oficiais colocam o problema de mão-de-obra<br />
não apenas através <strong>da</strong> oposição trabalho escravo/trabalho livre, mas<br />
ain<strong>da</strong> pela constatação de sua escassez. Arrolam como de maior importância<br />
na caracterização <strong>da</strong> decadência <strong>da</strong> lavoura a denomina<strong>da</strong> “falta<br />
de braços”. Interrelacionam a origem com o momento atual <strong>da</strong> província<br />
enfatizando a constante escassez de braços escravos pelo elevado<br />
preço e pelos rigores de uma legislação internacional que impedia o<br />
tráfico negreiro. A decadência é percebi<strong>da</strong> através do agigantamento<br />
desta carência, que ofusca em determina<strong>da</strong>s passagens do texto as restrições<br />
do tipo de mão-de-obra em pauta.<br />
Em ver<strong>da</strong>de, se está diante de uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de percepção corrente<br />
nas análises relativas às economias provinciais e em tudo<br />
semelhante àquela registra<strong>da</strong> em Relatório e discursos coetâneos produzidos<br />
em outras províncias. 10 Tratava-se em conjunto a questão <strong>da</strong><br />
escassez de mão-de-obra e aquela do trabalho servil contrapondo-lhes<br />
medi<strong>da</strong>s com vistas à colonização e à implantação do trabalho livre. 11<br />
10. A propósito leia-se Cardoso, Fernando Henrique. Capitalismo e Escravidão no Brasil<br />
Meridional <strong>–</strong> o negro na socie<strong>da</strong>de escravocrata do Rio Grande do Sul. 2.ª edição. Rio de<br />
Janeiro: Ed. Paz e Terra, pp. 188-212, 1997.<br />
11. Quanto ao significado do trabalho livre em oposição ao trabalho escravo recorrendo-se<br />
a Cardoso pode-se atentar para o sentido preciso do livre a que se refere a literatura<br />
oficial <strong>da</strong> província:<br />
“Ideólogos do liberalismo, levavam às últimas conseqüências os princípios,<br />
A ideologia <strong>da</strong> decadência · 71