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A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

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Tudo se explica pela “faltas”. 23 As medi<strong>da</strong>s e planos governamentais, por<br />

outro lado, ganham legitimi<strong>da</strong>de ao objetivar a superação delas. É o que<br />

as justifica e as dota de sentido.<br />

A causa do mal está por si mesma indicando o remédio. Curase<br />

a ignorância com a instrução, a dissipação com a economia;<br />

suce<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>de à inércia, a solicitude à incúria e salvaremos<br />

ain<strong>da</strong> por estes meios tão simples como naturais, os restos<br />

de uma herança opulentíssima, que por esses mesmos meios<br />

cumulou e legou-nos a geração que nos precedeu. (Gomes de<br />

Castro, Ibid: 52) (g.n.) 24<br />

A decadência <strong>da</strong> lavoura é assim pensa<strong>da</strong> pela ausência de qualificações<br />

necessárias ou a partir <strong>da</strong>s várias medi<strong>da</strong>s do governo provincial capazes<br />

de suprir estas mesmas ausências.<br />

Na primeira situação ela é caracteriza<strong>da</strong> pelas “faltas”. Pela “falta”<br />

de conhecimentos técnicos dos lavradores, que utilizam um sistema de<br />

cultivo considerado ineficaz; pela “falta” de vias de comunicação ade-<br />

visão difundi<strong>da</strong> pelos administradores <strong>da</strong> província. O autor endossa acriticamente a<br />

interpretação oficial. Seu texto mescla-se com a massa difusa <strong>da</strong> documentação administrativa.<br />

Ao descrever a situação <strong>da</strong> província se revela consoante com o esboçado por<br />

Gomes de Castro (1875: Ibid) e, sintetizando o pensamento de seu inspirador, assevera:<br />

“Não é próspero o estado <strong>da</strong> lavoura na província; lavra o desânimo dos lavradores,<br />

ain<strong>da</strong> os de maiores recursos. Origina-se este fato <strong>da</strong> deficiência de conhecimentos profissionais,<br />

<strong>da</strong> falta de instituições de crédito agrícola, <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s vias de comunicação<br />

ou <strong>da</strong> ação combina<strong>da</strong> de to<strong>da</strong>s estas causas...” (Marques, 1876: 37) (g.n.)<br />

Assinala-se indícios de um esforço metódico em fixar uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de percepção<br />

única para se compreender a província. Ocorre uma transitivi<strong>da</strong>de que permeia<br />

tanto os documentos oficiais, quanto os textos de vulgarização firmados por produtores<br />

intelectuais reconhecidos e consagrados.<br />

(Leia-se Marques, César Augusto. A Província do Maranhão <strong>–</strong> breve memória.Rio de<br />

Janeiro. Typ. Nacional, pp. 37-39, 1876).<br />

24. Não há uma unanimi<strong>da</strong>de absoluta na vi<strong>da</strong> intelectual <strong>da</strong> Província, <strong>da</strong>í ser míster<br />

frisar que as considerações gerais emiti<strong>da</strong>s neste Relatório de Gomes de Castro foram<br />

refuta<strong>da</strong>s por Alexandre Theophilo de Carvalho Leal, um dos produtores intelectuais<br />

partidário do trabalho livre e <strong>da</strong>s inovações tecnológicas, em artigo publicado inicialmente<br />

em O Pais de 24 de abril de 1875 e depois no primeiro número do Jornal <strong>da</strong><br />

Lavoura de 15 de junho de 1875. Instaura-se uma polêmica e Gomes de Castro, numa<br />

tréplica no mesmo Jornal <strong>da</strong> Lavoura, rebate o seu crítico armando um dos mais<br />

importantes debates sobre “as causas do atraso <strong>da</strong> lavoura”, que mobilizou o mundo<br />

erudito <strong>da</strong> província.<br />

80 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>

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