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A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

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forçando os trabalhadores a se enquadrarem nas normas escravocratas<br />

ou instituindo o trabalho compulsório para a “população livre.”<br />

Trata-se <strong>da</strong> expressão de um conflito permanente que precisa o<br />

significado desta denomina<strong>da</strong> escassez de braços. São considerados<br />

escassos, em ver<strong>da</strong>de, os recursos para impor à população trabalhadora<br />

os rigores de ideologia de trabalho compulsório. Quer isto dizer que<br />

existe uma tensão constante entre as medi<strong>da</strong>s de imposição <strong>–</strong> que intentam<br />

imobilizar pela “habitação”, certa e conheci<strong>da</strong>, pelo controle dos<br />

deslocamentos <strong>da</strong> “população livre” de uma área para outra e pela peonagem<br />

<strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> <strong>–</strong> e as resistências coloca<strong>da</strong>s pelos trabalhadores<br />

classificados como “livres” e os escravos. 40<br />

Em alguns momentos tais segmentos sociais subjugados se manifestam<br />

enquanto uma força organiza<strong>da</strong>. A ação direta e aberta, tanto em<br />

se tratando dos quilombos, quanto dos rebeldes, desertores e salteadores<br />

no caso <strong>da</strong> Balaia<strong>da</strong>, se não constitui uma confirmação suficiente, ao<br />

nível político, <strong>da</strong> existência econômica de classes trabalhadoras em sua<br />

plenitude serve, entretanto, para indicar uma organização política específica,<br />

com grande poder de mobilização e aparato militar, capaz de<br />

abalar a correlação de forças numa formação social determina<strong>da</strong>.<br />

Para o poder instituído a sublevação que desorganiza a economia<br />

<strong>da</strong> província e que questiona a sua autori<strong>da</strong>de representa também um<br />

momento em que todos os opositores se nivelam. A fronteira precisa<br />

entre os trabalhadores, integrantes <strong>da</strong> “população livre”, e os escravos<br />

perde sua função delimitadora. A Divisão Pacificadora do Norte na edificação<br />

de obras públicas no contexto do teatro <strong>da</strong>s operações militares,<br />

ignora as distinções impostas pelo aparato jurídico. O Coronel Alves<br />

de Lima assevera que na desobstrução de lugares encachoeirados do rio<br />

Itapecuru e na abertura de canais empregou “escravos capturados antes<br />

de serem reclamados por seus senhores e alguns prisioneiros rebeldes”<br />

(Lima, 1841: Ibid.). Sujeitos à mesma jorna<strong>da</strong> de trabalho e submetidos<br />

à uma vigilância a mesma os rebeldes e os escravos são lembrados genericamente<br />

pela sua condição única de braços válidos disponíveis. Esta é<br />

40. Registra-se fugas em massa de escravos, organiza<strong>da</strong>s e abarcando pelo menos duas<br />

centenas de trabalhadores. Veja-se um dos anúncios estampados em O Progresso, n.º 82,<br />

de 28 de abril de 1847:<br />

“Tendo evadido <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s do Barão de Bagé do distrito de Guimarães duzentos<br />

escravos, o Governo Provincial expediu as convenientes ordens para que sejam capturados.”<br />

(Pág. 3)<br />

A ideologia <strong>da</strong> decadência · 91

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