19.04.2013 Views

A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ajusta<strong>da</strong> em algum período recuado e distante. A despeito de existir consenso,<br />

quanto ao ponto de parti<strong>da</strong> oficioso, presencia-se deslocamentos<br />

no corte correspondente ao passado idealizado. Sendo considera<strong>da</strong><br />

sempre do presente a decadência não varia.<br />

O passado de prosperi<strong>da</strong>de volatiliza-se rapi<strong>da</strong>mente e é aparentemente<br />

irrecuperável em sua plenitude, entretanto, alimenta as<br />

esperanças de presente e torna o futuro uma possibili<strong>da</strong>de real, porque<br />

de certo modo encerra uma recuperação. Recuperação que se<br />

insinua como factível porque ao nível <strong>da</strong> representação a natureza é exuberante<br />

e as terras férteis, constituindo-se num potencial precioso. 9 O<br />

Maranhão é assim, visto como tendendo à uma prosperi<strong>da</strong>de possível,<br />

embora imerso numa constante decadência. O presente é ao mesmo<br />

tempo, de maneira paradoxal, o princípio do futuro e a última etapa<br />

de um passado que persiste enquanto tradição e mito.<br />

Semelhante representação reafirma o que to<strong>da</strong> a tradição letra<strong>da</strong><br />

evoca e consagra ininterruptamente. Objetiva transmitir uma visão que<br />

se pretende a mais fidedigna e próxima <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, capaz de <strong>da</strong>r conta<br />

de forma satisfatória do empiricamente observável.<br />

Ao se considerar tal intenção como uma maneira de representar<br />

desloca-se, entretanto, os termos <strong>da</strong> questão. A reali<strong>da</strong>de, com os recursos<br />

<strong>da</strong> investigação científica, passa a residir no próprio ato que revela o<br />

caráter de representação do que os chamados patronos e clássicos pretendem<br />

reproduzir como real.<br />

O real, em ver<strong>da</strong>de, encontra-se na postura analítica que revela<br />

e situa a interpretação tradicional como mais uma representação.<br />

Descaracteriza-se a dimensão de ver<strong>da</strong>de de que ela se pretende detentora,<br />

relativiza-se a pretensa fidedigni<strong>da</strong>de que a tradição lhe imputou<br />

e se lhe dispõe no lugar devido. Empreende-se, desta maneira, uma<br />

reflexão inicial que visa tão-somente contribuir para uma leitura crítica<br />

dos fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> própria história <strong>da</strong> agricultura do Maranhão,<br />

assentados pela tradição cultural dominante.<br />

9. No que concerne a este aspecto pretende-se, numa etapa posterior de pesquisa, analisar<br />

as interpretações dos produtores intelectuais que no decorrer do século xix se<br />

organizaram em torno de periódicos e de socie<strong>da</strong>des literárias sendo responsáveis pela<br />

classificação do Maranhão como a Atenas Brasileira.<br />

A ideologia <strong>da</strong> decadência · 153

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!