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A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

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eprodução (alimentação, moradia). Esta imobilização pelo consumo de<br />

alimentos e pela moradia encontraria obstáculos maiores caso o “colono”<br />

dispusesse de um grupo familiar, que suprisse as necessi<strong>da</strong>des<br />

elementares, que mantivesse um roçado e permitisse uma maior autonomia<br />

sua face aos fornecimentos regulares do empresário.<br />

Não surpreende assim, que numa classificação ingênua monta<strong>da</strong><br />

pelos empresários, diante dos primeiros atritos com os colonos, os<br />

“chins” apareçam como os mais “dóceis” e disciplinados, enquanto que<br />

as colônias que se utilizam dos casais, como se verá adiante, são aponta<strong>da</strong>s<br />

como tendo os mais insubordinados aos regulamentos e à<br />

vigilância do trabalho monta<strong>da</strong> pelos empresários.<br />

Os “chins” constituiam os expropriados extremos porque inteiramente<br />

submetidos e imobilizados devido às próprias condições do<br />

tráfico, que não ficava muito a dever aos negreiros portugueses. 68 Ademais<br />

a eles, segundo os estudos históricos de Perez de la Riva, 69 resultava<br />

muito difícil constituir famílias. Os contingentes de “chins” eram integrados<br />

exclusivamente por homens e a forte discriminação racial tornava<br />

exígua, senão nenhuma, a possibili<strong>da</strong>de de aliança. Acrescentava-se a isto<br />

a elevadíssima taxa de mortali<strong>da</strong>de entre os “chins” (Riva, 1978: 63), com<br />

grande incidência de suicídios, doenças e casos de inutilização devido ao<br />

trabalho forçado. Esta quase impossibili<strong>da</strong>de de reprodução física atendia<br />

aos interesses de facções políticas dominantes, que repudiavam a<br />

denomina<strong>da</strong> “colonização amarela” ou “colonização mongólica” e enxergavam<br />

nos “chins” tão somente os cativos de nova servidão.<br />

Daí serem representados pelas autori<strong>da</strong>des provinciais como<br />

“dóceis e sóbrios” (Cruz Machado, 1856:55), porém serem considerados<br />

apenas como trabalhadores e jamais como “colonos”. É como se fosse<br />

sendo depura<strong>da</strong> a distinção do Presidente Cruz Machado entre “colônias”<br />

e “companhias de trabalhadores” ao se caracterizar, sem delongas,<br />

os interesses em pauta. O Senador Cândido Mendes de Almei<strong>da</strong>, <strong>da</strong> Província<br />

do Maranhão, deixa isto cristalino num discurso proferido na<br />

sessão de 1o. de outubro de 1877 no Orçamento do Ministério <strong>da</strong> Agricultura:<br />

68. Riva, Juan Pérez de la. Aspectos econômicos del tráfico de culíes chinos a Cuba<br />

(1853-1874). In: El Barracón. Esclavitud y Capitalismo en Cuba. Barcelona: Editorial<br />

Crítica, pp. 89-110, 1978.<br />

69. Riva, Juan Pérez de la. Demografia de los culíes chinos en Cuba (1853-1874). In: El<br />

Barracón. Esclavitud y Capitalismo en Cuba. Ibid., pp. 56-57.<br />

A ideologia <strong>da</strong> decadência · 111

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