A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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Machado classifica as febres como “febres próprias <strong>da</strong> estação” (Ibid., p.<br />
57) ou <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> “quadra doentia” (Ibid., p. 58) e não acusa surto epidêmico<br />
ou não atribui qualquer dimensão trágica ao acontecimento. Na<br />
mesma direção procede o Relatório de Magalhães Taques, o qual elaborou<br />
o quadro dos óbitos e nascimentos.<br />
Outro elemento de explicação <strong>da</strong> dita decadência refere-se à insubordinação<br />
dos colonos ao previsto nas cláusulas dos contratos<br />
firmados com os empresários. Ela se apresenta, principalmente, na Colônia<br />
de Santa Tereza onde é menor a desproporção entre homens e<br />
mulheres, conforme se viu, e em que há menção à presença de casais e<br />
possivelmente de redes sociais compostas de antigos vizinhos, <strong>da</strong>do que<br />
todos os 140 colonos que a integram são naturais <strong>da</strong> Ilha Graciosa, localiza<strong>da</strong><br />
nos Açores.<br />
Tais “colonos” se recusaram a lavrar os terrenos que lhes foram<br />
distribuídos, não aceitaram os termos <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> parceria e nem a jorna<strong>da</strong><br />
de trabalho imposta pelo empresário. Diante desta resistência o<br />
empresário recorreu às forças policiais, às tropas de linha ou os eternos<br />
vigilantes dos trabalhadores na história <strong>da</strong> província.<br />
A má índole de alguns, reuni<strong>da</strong> à sedução de pessoas estranhas<br />
à colônia produziu nela a insubordinação, a ponto de abandonarem<br />
os trabalhos já encetados, de modo que o empresário<br />
esgotado todos os meios brandos, viu-se na força de recorrer à<br />
autori<strong>da</strong>de policial para coagí-los a regressar à colônia, e a<br />
cumprir o contrato, o que de feito conseguiu. (Cruz Machado,<br />
1857:57) (g.n.)<br />
A coação, que ampara o trabalho compulsório, foi aplica<strong>da</strong> sem mais.<br />
Os “colonos” não poderiam abandonar a colônia, segundo a legislação<br />
específica, porque para se locomoverem pelo município necessitavam<br />
de uma licença e esta não lhes fora concedi<strong>da</strong>. Às tropas de linha cabia,<br />
pois reconduzi-los, mesmo que a contragosto. E foi o que sucedeu.<br />
Entretanto, no mesmo documento pode-se ler que muitos “colonos”<br />
apesar de perseguição se dispersaram pelo interior <strong>da</strong> comarca: “negando-se<br />
ao trabalho vagam sem licença pelo município, em ociosi<strong>da</strong>de,<br />
pedindo esmolas e tirando subscrições” (Ibid., 57).<br />
Quer isto dizer, que nem as forças policiais lograram completo<br />
êxito. Meses depois, em fins de 1856, os colonos se dispersaram<br />
A ideologia <strong>da</strong> decadência · 115