A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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aproximáveis e revelam um mesmo tipo de ruptura. Expressam uma<br />
clivagem, geralmente, nomea<strong>da</strong> como o término <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de de ouro do<br />
Maranhão. 6<br />
A nostalgia e a idealização do passado passam a representar figuras<br />
essenciais na representação acerca do Maranhão. O presente passa a<br />
ser vivido como um resíduo do período denominado áureo. E este<br />
período, por sua vez, dependendo do presente de quem fala pode estar<br />
sujeito a ligeiras alterações, porque no fundo o que está em jogo é uma<br />
permanente idealização do passado, cujo marco inicial é bem explícito<br />
mas, cujo ponto de término encontra-se sujeito a mu<strong>da</strong>nças.<br />
Para além dos fatos se está diante de formas de representação. As<br />
interpretações e documentos devem ser entendidos baixo este pressuposto.<br />
Não provoca pois, estranheza que se leia num autor, que produz<br />
em 1960, que o “império foi a i<strong>da</strong>de do ouro” do Maranhão, ou seja, entre<br />
1822 e 1889, enquanto que os administradores provinciais e os autores que<br />
elaboraram suas interpretações no período imperial afirmam unanimemente<br />
que a “i<strong>da</strong>de de ouro” transcorreu um século antes do tempo em<br />
que estavam falando, isto é, na segun<strong>da</strong> metade do século xviii.<br />
O Império, repetimos, foi a I<strong>da</strong>de de Ouro do Maranhão, não<br />
obstante quando em vez os azares <strong>da</strong> balança comercial, as<br />
altas e baixas inespera<strong>da</strong>s do algodão... (Meireles, 1960: 286) 7<br />
Para G. de Abranches, Xavier e demais produtores intelectuais, assim<br />
como para os administradores provinciais a “i<strong>da</strong>de de ouro” <strong>da</strong>tava do<br />
estabelecimento <strong>da</strong> Cia. Geral do Grão-Pará e do Maranhão. 8<br />
O que é interpretado como “i<strong>da</strong>de do ouro” para quem formula<br />
em 1960 é lido como decadência para quem formula no período que<br />
o primeiro denominou de “i<strong>da</strong>de de ouro”. A chama<strong>da</strong> decadência é<br />
sempre contemporânea de quem está falando. A exaltação do passado é<br />
6. Documentação do Conselho Ultramarino intitula<strong>da</strong> “Maranhão. Ruína e decadência<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de em vista do pesado imposto do algodão” e <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de 1792, ou seja, situa o<br />
término <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> "prosperi<strong>da</strong>de" em fins do século xviii. (Conselho Ultramarino,<br />
vol. 9.º pág. 395 <strong>–</strong> ihgb).<br />
7. Cf. Meirelles, Mario M. História do Maranhão. Rio de Janeiro. <strong>da</strong>sp <strong>–</strong> Serviço de<br />
Documentação, 1960.<br />
8. Consulte-se no capítulo referente à versão dos administradores provinciais os excertos<br />
relativos ao Relatório de Antonio <strong>da</strong> Cruz Machado apresentado à Assembléia<br />
Legislativa Provincial em 1856. A expressão “i<strong>da</strong>de de ouro” é explícita.<br />
152 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>