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A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

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militares rapinadores. De outro lado, tinha-se um reforço dos laços de<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de entre os quilombolas e esta população camponesa. Laços<br />

que eram desestimulados pelo poder provincial ao abrir inquérito contra<br />

os indivíduos considerados coniventes com os quilombolas.<br />

O presidente Menezes Dória, em 1867, autorizou o chefe de<br />

polícia no sentido de diligenciar a captura dos autores e cúmplices <strong>da</strong><br />

revolta dos quilombolas. Foram presos os comerciantes José Feliciano de<br />

Campos, Manoel Joaquim Ferreira, Tomaz Ferreira de Mendonça e José<br />

Fonseca. Na versão policial o movimento dos quilombolas de São Benedito<br />

do Céu fora “aconselhado” pelos comerciantes.<br />

Há evidências de que a produção agrícola dos quilombos estaria<br />

circulando através destes e de outros comerciantes, o que confirmaria<br />

sua ligação com o mercado, não obstante estarem localizados nas distantes<br />

regiões de mata. Desfazem-se assim as suposições de que os<br />

quilombos <strong>da</strong> província, encontravam-se inteiramente isolados e à margem<br />

do processo produtivo, produzindo tão somente para o seu<br />

próprio consumo. Os atos de compra e ven<strong>da</strong> de sua produção agrícola<br />

estabelecidos com a população chama<strong>da</strong> cabocla eram regulares e só<br />

suspensos quando <strong>da</strong>s campanhas guerreiras movi<strong>da</strong>s pelo governo<br />

provincial.<br />

A destruição integral <strong>da</strong>s benfeitorias constituía assim uma tentativa<br />

desespera<strong>da</strong> <strong>da</strong>s tropas de linha de que os “negros fugitivos” não<br />

voltassem a se instalar onde possivelmente já contavam com uma rede<br />

de relações sociais e econômicas possível de ser reativa<strong>da</strong>. A diretriz<br />

geral resumia-se então nesta devassa completa dos quilombos.<br />

A partir de fins de 1877 observa-se, porém, uma mu<strong>da</strong>nça radical<br />

na orientação <strong>da</strong><strong>da</strong> às expedições militares envia<strong>da</strong>s contra os<br />

quilombos. Elas alteram sua tática. Não se trata mais de destruir quilombos<br />

e suas benfeitorias. Às ordens depre<strong>da</strong>doras sucederam aquelas<br />

que visavam a preservação e a manutenção <strong>da</strong>s benfeitorias.<br />

Tal mu<strong>da</strong>nça está diretamente articula<strong>da</strong> com a criação dos<br />

“núcleos de colonização de cearenses”. E <strong>da</strong>s tropas exigia-se agora uma<br />

distinção no seu proceder bélico: separar os quilombolas <strong>–</strong> que deveriam<br />

ser aprisionados <strong>–</strong> do produto de seu trabalho, ou seja, de suas realizações<br />

na área dos quilombos (casas, roças, poços, trilhas, cercados etc.).<br />

De coisa a ser destruí<strong>da</strong> os quilombos transformam-se em<br />

importantes presas de guerra, sendo destacados inclusive praças de linha<br />

para guar<strong>da</strong>r e proteger estes preciosos despojos.<br />

138 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>

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