A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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diga por completo. A reflexão se dá pela evocação do avesso. A apologia<br />
do progresso, que é um objetivo presumivelmente alcançável, passa<br />
por esta idealização do passado. As clivagens que orientam o discurso<br />
dos intérpretes referidos transmitem as descontinui<strong>da</strong>des necessárias e<br />
imprescindíveis para que se possa imaginar um futuro que, de forma<br />
alguma, deve ser visto com estranheza e sim como uma recuperação, de<br />
certo modo, possível. Isto porque fica transparente nas interpretações<br />
que é impossível se reconstituir de maneira concreta a situação anterior<br />
em sua plenitude e que cabe nutrir as possibili<strong>da</strong>des futuras através <strong>da</strong><br />
aplicação <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s esboça<strong>da</strong>s. O preenchimento gra<strong>da</strong>tivo <strong>da</strong>s lacunas<br />
assinala<strong>da</strong>s habilita para que seja atingido de modo resoluto o<br />
progresso fixado em futuro distante.<br />
Nesta ordem o Maranhão é representado como se fosse uma<br />
eterna tendência. Nos textos que refletem a denomina<strong>da</strong> “situação<br />
maranhense”, produzidos nas primeiras déca<strong>da</strong>s do século xix,percebe-se<br />
invariantes que expressam uma intertextuali<strong>da</strong>de com outros<br />
discursos, particularmente o mítico e o histórico, que dispõem esta produção<br />
intelectual como circunscrita pelo desejo de vir a ser. Sugere um<br />
vir a ser permanente. É representado como não sendo. Entretanto, já foi<br />
e deverá ser. O presente é indubitavelmente uma expressão do declínio.<br />
Na imagem que os autores consagrados veiculam o Maranhão<br />
detém to<strong>da</strong>s as potenciali<strong>da</strong>des (natureza exuberante, fertili<strong>da</strong>de do<br />
solo, localização geográfica singular) que amparam e asseguram êxito<br />
que as medi<strong>da</strong>s sugeri<strong>da</strong>s e aplica<strong>da</strong>s prometem. Não se mostra seco<br />
como o Nordeste, nem é úmido como o Norte. Seus terrenos não são<br />
estéreis e desertificados nem são pantanosos. A partir do que no ideário<br />
dos intérpretes, basta que as “faltas” percebi<strong>da</strong>s sejam apropria<strong>da</strong> e convenientemente<br />
supri<strong>da</strong>s para que a “vocação do progresso” se cumpra.<br />
Pelo exposto, e tendo sempre em mente os discursos mítico e<br />
historiográfico, afirma-se um esquema interpretativo, cujos fun<strong>da</strong>mentos<br />
geográficos legitimam a dominação colonialista e um campo de<br />
poder com preponderância de grandes proprietários rurais.<br />
O padrão de explicação que os mencionados patronos e clássicos<br />
articulam institui, assim, uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de ti<strong>da</strong> como legitima para<br />
se pensar o Maranhão transcendendo o tempo em que foi elaborado e<br />
se mantendo contemporaneamente nos meandros do pensamento erudito<br />
a nível regional.<br />
58 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>