A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
cama<strong>da</strong> de pequenos produtores agrícolas autônomos. Isto é, que em<br />
princípio não está subordina<strong>da</strong> aos interesses diretos e imediatos dos<br />
grandes proprietários de terras.<br />
Entretanto, esta cama<strong>da</strong> é disposta numa situação de confronto<br />
com os quilombolas. Haja visto que a colônia Prado situava-se no local<br />
de extinto quilombo do Limoeiro e a sua direção foi confia<strong>da</strong> justamente<br />
ao militar, que comandou a força que bateu os quilombolas.<br />
Este fato de que os quilombos destruídos serviam de base para o<br />
assentamento dos “colonos cearenses” passou a despertar o interesse<br />
do pesquisador porquanto contribuía para explicar o motivo pelo qual<br />
colônias foram estabeleci<strong>da</strong>s nas matas do Turiaçu e não nas proximi<strong>da</strong>des<br />
de capital <strong>da</strong> província. Havia razões de natureza militar, como se<br />
as colônias constituíssem os segmentos mais avançados em regiões inexplora<strong>da</strong>s,<br />
habita<strong>da</strong>s por indígenas e “negros fugitivos”.<br />
De posse destes <strong>da</strong>dos procurou-se então, desdobrar a reflexão<br />
relendo, na direção dos quilombos, os mesmos relatórios compulsados.<br />
Destacou-se com relação à tática <strong>da</strong>s expedições militares envia<strong>da</strong>s<br />
para combatê-los uma alteração crava<strong>da</strong> exatamente no ano de 1877.<br />
Tal <strong>da</strong>ta funcionava como uma clivagem no significado que tinham os<br />
quilombos para o governo provincial.<br />
Verificou-se que as notícias de envio de forças de linha para aprisionar<br />
os quilombolas, resgatando-os às “fazen<strong>da</strong>s agrícolas” são<br />
recorrentes no conjunto dos relatórios examinados. A destruição sistemática<br />
dos quilombos e mocambos com suas edificações e benfeitorias<br />
era sempre preconiza<strong>da</strong>. Exigia-se uma devassa completa.<br />
As ordens superiores até 1877 visavam uma destruição integral<br />
dos quilombos. Diria o presidente Sá e Benevides em 18 de outubro de<br />
1877: “É lamentável que apenas conseguiu esse oficial destruir as casas e<br />
roças dos quilombolas, logrando estes fugir...” (Sá e Benevides, 1877: 6).<br />
A destruição total <strong>da</strong>s benfeitorias dos quilombolas impunha-se<br />
como necessária porque os militares não permanecendo na região definitivamente,<br />
havia sempre a possibili<strong>da</strong>des deles se reagruparem. Com<br />
a retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> força de linha os quilombolas retornariam para fazer a<br />
colheita, para reparar suas habitações e demais benfeitorias <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong>s<br />
pelas tropas.<br />
“Infelizmente com a retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> força de linha os quilombolas, que<br />
apenas se tinham retraído, principiaram de novo as suas correrias...”, constatava<br />
o presidente Senador Frederico de Almei<strong>da</strong> e Albuquerque em 1876.<br />
136 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>