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A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

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A resposta à in<strong>da</strong>gação de quem são os “braços livres” vai ser <strong>da</strong><strong>da</strong>, por<br />

sua vez, pelas qualificações atribuí<strong>da</strong>s aos “colonos” ou aos “emigrantes”.<br />

Estes podem ser nomeados de “europeus” ou estrangeiros”, qualificações<br />

que estão vincula<strong>da</strong>s à concepção de que são possuidores de técnicas<br />

avança<strong>da</strong>s de cultivo em oposição aos métodos de cultura adotados,<br />

considerados extensivos, rudimentares e de baixa produtivi<strong>da</strong>de. 53<br />

Uma ideologia de trabalho intensivo, sistemático, extremamente<br />

rentável e organizado com técnicas vistas como modernas dispõe estes<br />

“emigrantes” e/ou “colonos” em oposição aos denominados ociosos e<br />

vadios que os analistas enfatizam ao descreverem os motivos <strong>da</strong> decadência.<br />

Isto a despeito de em 1856 já assentirem em afirmar que ocorreu<br />

um retorno ao “hábito do trabalho”, que teria sido afetado com a Balaia<strong>da</strong>,<br />

e de nomearem este período ou mais exatamente a déca<strong>da</strong> 1850-60<br />

como uma “época de regeneração”. 54<br />

A noção de colonização, por esta via, exprime a crença numa mãode-obra<br />

qualifica<strong>da</strong> e numa pronta inovação técnica. É concebi<strong>da</strong> como<br />

preenchendo simultaneamente diversas lacunas. A par com a emigração<br />

estrangeira é imagina<strong>da</strong> como derramando uma instrução profissional,<br />

sem recorrer ao aprendizado metódico <strong>da</strong> escola, uma vez que introduz<br />

trabalhadores adultos já possuidores <strong>da</strong> especiali<strong>da</strong>de requeri<strong>da</strong>. O sen-<br />

53. Segundo Cruz Machado (1856: 77,78) o “atual método de cultura, (....) filho <strong>da</strong> ignorância<br />

dos primeiros colonos que há três séculos povoaram esta terra e <strong>da</strong> cega rotina”<br />

pode ser, de maneira resumi<strong>da</strong>, assim descrito:<br />

“O tempo aqui empregado em roçar e nas derrubas é o que decorre de agosto a<br />

dezembro; preparados os roçados, queimam-se, e encoivara-se depois o terreno, que,<br />

em janeiro deve ser plantado, se a queima foi por ventura favorável; pois não poucas<br />

vezes o roçado fica em parte, senão todo, perdido por se não vencerem as coivaras. Para<br />

este serviço, que abrange bom espaço do ano, é escolhi<strong>da</strong> a melhor gente, que, durante<br />

as derruba<strong>da</strong>s, corre o risco de ficar esmaga<strong>da</strong> por pesados troncos de árvores. Por<br />

esta breve descrição do sistema geralmente empregado pelos lavradores <strong>da</strong> província<br />

pode-se calcular o terreno aproveitado de uma extensão imensa que se prepara, pois<br />

fica sempre atravancado de tocos e de grandes madeiros, o que dificultando o passo aos<br />

trabalhadores, e roubando parte do terreno às sementeiras impede o lavrador de recolher<br />

tudo, quanto a terra produziu em retribuição de suas fadigas. Além do cui<strong>da</strong>do,<br />

que acompanha o escravo no tempo <strong>da</strong> novi<strong>da</strong>de dos gêneros de cultura, para satisfazer<br />

a tarefa que se lhe marca, outros cui<strong>da</strong>dos o assaltam durante o trabalho, que ele<br />

faz procurando sempre desviar-se dos tocos e espinhos, que, ao menor descuido, lhe<br />

rasgam as roupas e as carnes. Os mesmos serviços se repetem anualmente e, no breve<br />

espaço de três e mesmo de dois anos, é o lavrador obrigado a abandonar o lugar, a fazer<br />

novas eiras, ranchos novos e finalmente novas estra<strong>da</strong>s.” (Cruz Machado, 1856: 77,78)<br />

54. Ibid., pp. 76, 77.<br />

98 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>

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