A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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junho de 1755; até essa época as produções <strong>da</strong> capitania de São<br />
Luiz eram insignificantes, e nenhum o seu comércio. Além do<br />
arroz vermelho, chamado arroz <strong>da</strong> terra, mandioca, milho e<br />
café, os seus moradores na<strong>da</strong> mais cultivavam, a não ser em<br />
pequena escala, o algodão que fiavam e reduziam a novelos e<br />
a rolos de pano; o que constituia o representativo <strong>da</strong> moe<strong>da</strong> na<br />
capitania. (Cruz Machado, 1856:75) (g.n.)<br />
A escolha incide ain<strong>da</strong> numa periodização que separa este tempo, em que<br />
se anuncia a prosperi<strong>da</strong>de, de um tempo anterior que tal como o presente<br />
também lhe é inferior em grandeza, o que contribui deveras para realçar<br />
sua condição singular, de proeminência.<br />
A este período de atrazo e de barbaria liga-se a escravidão dos<br />
índios, assim como à época do desenvolvimento e <strong>da</strong> prosperi<strong>da</strong>de<br />
do Maranhão prende-se um acontecimento notável, a<br />
publicação <strong>da</strong> lei que proclamou a liber<strong>da</strong>de destes infelizes<br />
(Lei de 6 de junho de 1755)... (Ibid: p. 76) (g.n.)<br />
Ain<strong>da</strong> que os intérpretes oficiais procurem fazer a ro<strong>da</strong> <strong>da</strong> história an<strong>da</strong>r<br />
para trás, observa-se que a decadência não é toma<strong>da</strong> como uma repetição<br />
<strong>da</strong> barbaria. Uma não constitui uma reprodução integral <strong>da</strong> outra.<br />
O presente nunca é classificado de barbaria, embora exista um consenso<br />
sempre renovado em representá-lo como em decadência. A barbaria,<br />
ponto indefini<strong>da</strong>mente recuado e que manifesta o inverso <strong>da</strong> civilização,<br />
não há como fazer dela a origem. Do ponto de vista do presente de quem<br />
fala há que existir um período passado bem sucedido, considerado como<br />
civilizado, que avalise como certas as asserções de reabilitação possível<br />
num futuro próximo. Afinal, nenhuma interpretação oficial pode afastar<br />
to<strong>da</strong>s as esperanças no futuro e indicar o caos como inevitável e a<br />
barbaria como origem sem colocar em questão a sua própria ação executiva<br />
e administrativa, isto é, seu próprio poder. A decadência trata-se<br />
assim, do que deixou de ser de um passado idealizado. Passado que é, ao<br />
mesmo tempo, de certo modo, aonde se quer chegar. O passado idealizado<br />
representa para os administradores provinciais uma perspectiva<br />
do futuro desejado. Por intermédio <strong>da</strong> ingenui<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s cronologias<br />
estabelecem relações de determinação circular e de supostos antagonismos<br />
aparentemente inassimiláveis.<br />
68 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>