A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
desta definição social, mol<strong>da</strong>dos pelas instâncias de consagração, é que<br />
possibilitam agrupar autores que se supõe de estatuto equivalente. Filiando-os<br />
entre si montam-se as genealogias e um sistema de parentesco<br />
intrínseco a um campo intelectual determinado (Bourdieu, 1968: 109).<br />
Os aspirantes à consagração são estimulados a estabelecerem vínculos<br />
com seus possíveis patronos incidindo numa gama de citações e<br />
referências que endossando constantemente o poder explicativo <strong>da</strong>queles<br />
textos históricos acaba por torná-los invulneráveis a procedimentos<br />
de críticas e releituras.<br />
Para além destes classificados como patronos, acrescente-se também<br />
outros selecionados que, a despeito de não possuírem tal título,<br />
usufruem de formas outras de consagração e produziram trabalhos<br />
tratando do problema <strong>da</strong> decadência <strong>da</strong> lavoura. Um deles é João Antônio<br />
Garcia de Abranches, cognominado o Censor, e o outro Manoel<br />
Antônio Xavier. O primeiro produziu em 1821 e publicou em Lisboa<br />
no ano de 1922 o Espelho Crítico-Político <strong>da</strong> Província do Maranhão,<br />
cuja primeira parte narra os chamados “progressos <strong>da</strong> lavoura” e “as<br />
circunstâncias dos lavradores”. O outro em novembro de 1922 elaborou<br />
uma “Memória sobre o decadente estado <strong>da</strong> lavoura e comércio <strong>da</strong><br />
Província do Maranhão” cujos manuscritos foram entregues ao ihgb<br />
para fins de arquivo e publicação.<br />
João Antonio Garcia de Abranches é assinalado como clássico<br />
pelos responsáveis pelas históricas <strong>da</strong> literatura no plano regional. Integra<br />
os chamados panoramas e apontamentos <strong>da</strong> literatura maranhense.<br />
Possui biógrafos, que defendem seus pontos de vista 9 e descendentes<br />
diretos, como seu neto Dunshee de Abranches (João Dunshee de Abranches<br />
Moura) que administraram sua glória póstuma. Este último<br />
tornou-se ele próprio patrono de uma <strong>da</strong>s cadeiras de outra significativa<br />
instituição regional, qual seja a Academia Maranhense de Letras.<br />
9. A autoria do Espelho Crítico-Político <strong>da</strong> Província do Maranhão é contesta<strong>da</strong>, sendo<br />
também atribuí<strong>da</strong> a João Crispim Alves de Lima. Dunshee de Abranches em seu ensaio<br />
biográfico intitulado Garcia de Abranches, o Censor (O Maranhão em 1922), São Paulo,<br />
1922, argumenta no sentido de demonstrar que Garcia de Abranches foi o real autor do<br />
livro, que na versão original é assinado “Por hum habitante <strong>da</strong> mesma província.”<br />
Garcia de Abranches residiu por trinta anos no Maranhão e foi opositor do General<br />
Cockrane que o prendeu e o manteve incomunicável no Forte <strong>da</strong> Ponta d'Areia. Dali a<br />
3 de maio de 1825 foi enviado para Lisboa no brigue Aurora. Garcia de Abranches volta<br />
ao Maranhão, após ser considera<strong>da</strong> injusta sua prisão e edita até 1830 os 24 opúsculos<br />
de O Censor Maranhense.<br />
30 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>