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A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

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que lhes transferiram o cargo. É o que sucede com a Falla que José<br />

Manoel de Freitas dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial na instalação<br />

de sua primeira sessão <strong>da</strong> 24.ª Legislatura em 13 de março de<br />

1882. Ela contém o Relatório com que ao mesmo passou a administração<br />

<strong>da</strong> Província o Conselheiro João Paulo Monteiro de Andrade, no<br />

dia sete do referido mês, ou seja, seis dias antes. Lendo-se este documento<br />

verifica-se, por uma referência ineludível, que se trata <strong>da</strong>quele<br />

que o citado Conselheiro havia recebido a Presidência <strong>da</strong> Província de<br />

Cincinato Pinto <strong>da</strong> Silva, em novembro de 1881, antes dele se retirar<br />

para a Bahia.<br />

A expressão desta rotativi<strong>da</strong>de dos administradores provinciais<br />

permite que se imagine um corpo permanente de funcionários ou burocratas<br />

provinciais especializado em produzir documentos oficiais ou<br />

então que se suponha a cristalização de uma prática burocrática de<br />

repetir indefini<strong>da</strong>mente imagens, metáforas e figuras de retórica evoca<strong>da</strong>s<br />

em documentos anteriores. Quanto mais repeti<strong>da</strong>s se acharem nos<br />

escritos oficiais, tanto mais segurança transmitem a quem queira reproduzi-las.<br />

Na repetição palmilha-se um terreno comum e se incide em<br />

fixar termos e expressões que asseguram a ilusão <strong>da</strong> certeza e <strong>da</strong> exatidão,<br />

mesmo quando são maiores as incertezas e o desconhecimento por<br />

parte dos administradores. Através dela é que se institui um léxico<br />

considerado apropriado aos documentos, é que se fixa palavras ou<br />

expressões considera<strong>da</strong>s “chaves” ou que sempre se supõe traduzir a<br />

“situação real” <strong>da</strong> província.<br />

Esta imitação de um dito instaura precauções ao se analisar a<br />

documentação oficial: o fato repete-se ou repete-se a expressão que<br />

sempre o enuncia? Para além de quem fala, isto é, dos sujeitos que elaboraram<br />

estes Relatórios e de suas respectivas formações acadêmicas é<br />

lícito conceber os documentos como um texto único? Como uma resposta<br />

positiva poderia articular o anonimato dos autores com as<br />

diferentes facções e partidos políticos (liberais, conservadores) que se<br />

revezam no poder? Como é que apareceriam situações consensuais, não<br />

obstante o dissenso na luta política?<br />

Antes de tentar apreender os documentos em sua totali<strong>da</strong>de,<br />

enquanto uma uni<strong>da</strong>de discursiva específica, cuja apreensão e entendimento<br />

exige que se empreen<strong>da</strong> uma leitura crítica capaz de colocar em<br />

suspenso a legitimi<strong>da</strong>de de se reconstituir a história a partir deles decidiu-se<br />

por isolar categorias que lhes são essenciais. Categorias <strong>da</strong>s quais<br />

64 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>

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