A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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eduzam os índios que os habitam, se não mu<strong>da</strong>r do systema<br />
já nota<strong>da</strong> a n. 14), não <strong>da</strong>rá pouco que fazer aos tribunaes o<br />
progresso <strong>da</strong>s suas deman<strong>da</strong>s. (Ribeiro, 1815) (g.n.)<br />
Em ver<strong>da</strong>de o aumento <strong>da</strong> oferta de terras cultiváveis permitia aos<br />
denominados lavradores não apenas a expansão de suas lavouras, mas<br />
ain<strong>da</strong> a resolução de certas disputas atendendo às reivindicações de<br />
uma cama<strong>da</strong> deles que se julgava prejudica<strong>da</strong> na partilha legal <strong>da</strong>s terras<br />
e nas doações reais que não observaram o estoque efetivo de terras<br />
disponíveis.<br />
Como segundo entrave Gaioso aponta o “horroroso preço <strong>da</strong><br />
escravatura” (Gaioso, Ibid.: 240) no que é acompanhado por G. de<br />
Abranches (Ibid.: 12-15). A elevação do preço dos escravos leva os denominados<br />
lavradores a contraírem dívi<strong>da</strong>s junto aos comerciantes. Os<br />
juros que incidem sobre estes empréstimos são tidos como elevadíssimos,<br />
na versão dos intérpretes, o que dificulta o seu resgate num prazo<br />
hábil. 19 Deste entrave deduz-se um outro que diz respeito às “execuções<br />
na escravatura” (Gaioso, Ibid.: 251): “as execuções se fazem nos escra-<br />
19. Aos “comerciantes” correspondiam as casas comerciais inglesas e portuguesas,<br />
sedia<strong>da</strong>s em São Luís, acusa<strong>da</strong>s pelos denominados “lavradores” de especularem no<br />
mercado algodoeiro, que acumulavam o maior montante de bens e recursos então em<br />
circulação. Para Viveiros (1954:163) eles eram banqueiros, que concediam empréstimos, e<br />
controlavam exportações, importações e até o beneficiamento de produtos agrícolas, além<br />
de terras e escravos. Dos três maiores comerciantes portugueses no início do século<br />
xx, citados por Viveiros, um deles possuía hum mil e quinhentos escravos, caso de<br />
José Gonçalves <strong>da</strong> Silva, o outro herdou hum mil e oitocentos escravos, caso de<br />
Simplício Dias <strong>da</strong> Silva e o terceiro trata-se de Antonio José Meirelles que sucedeu a<br />
Gonçalves <strong>da</strong> Silva nos empréstimos a fazendeiros (Viveiros 1954; 165-167) Alcântara<br />
sempre se caracterizou mais como local de produção e de proeminência de fazendeiros,<br />
enquanto em São Luís estariam os comerciantes, os exportares e financiadores <strong>da</strong><br />
compra de escravos. Viveiros assinala que, em 1819, o preço do algodão baixou repentinamente<br />
para menos <strong>da</strong> metade do preço antigo, levando à bancarrota fazendeiros,<br />
designados como “lavradores”, que se <strong>da</strong>vam ao “luxo desmedido” e “que compraram<br />
grandes lotes de escravos a longos prazos, os quais não puderam pagar.” (Viveiros,<br />
1954:139). Pereira do Lago, em 1820, em Estatística histórico-geográfica <strong>da</strong> Provínica do<br />
Maranhão cita 54 comerciantes portugueses e quatro estrangeiros em São Luís.<br />
Destaca Meirelles, dentre os portugueses, e R. Hesketh entre os estrangeiros. Menciona<br />
também os estabelecimentos fabris: “Há diferentes máquinas de descascar arroz, de<br />
descaroçar algodão, de fazer açúcar, de destilações e de tecer pano de algodão, to<strong>da</strong>s<br />
imperfeitas... e podemos dizer que a força motriz de to<strong>da</strong>s é só a resultante de muitos<br />
braços escravos, parecendo aquelas fábricas mais uma masmorra d'África” (Pereira do<br />
Lago, ibid. 56) (g.n.).<br />
50 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>