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A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

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As ordens de distribuição <strong>da</strong>s tropas de linha pela província ocorrem<br />

em função <strong>da</strong>s áreas em que há maior proeminência <strong>da</strong>queles<br />

considerados à margem: os quilombolas, 37 os chamados “selvagens” ou<br />

grupos indígenas arredios e os denominados ociosos integrantes <strong>da</strong> “população<br />

livre”. Pela vigilância espera-se assegurar a retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> produção<br />

<strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s, obrigando ao trabalho aqueles “sem lugar certo de habitação”<br />

38 e aqueles que se furtaram às suas ativi<strong>da</strong>des previstas pela legislação.<br />

Neste sentido é que devem ser li<strong>da</strong>s as determinações pormenoriza<strong>da</strong>s<br />

do Coronel Luiz Alves de Lima no seu Relatório de 1841:<br />

A comarca do Brejo é que mais contém em suas matas grande<br />

cópia de ociosos, e menos de quinhentas praças não se fará a<br />

sua polícia: destas devem existir cem na Vila do Brejo e outras<br />

tantas no Chatuba, Mocambo, Chapadinha e Barro Vermelho,<br />

para que destes pontos saiam parti<strong>da</strong>s volantes que assegurem<br />

como uma Mata dos Moquins em escala macroscópica, numa antevisão <strong>da</strong> guerra <strong>da</strong><br />

Balaia<strong>da</strong>, que iniciaria um ano depois nesta mesma região. O ponto de vista dos lavradores<br />

sobre a precária situação <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s e seus respectivos medos e temores tornam-se<br />

explícitos neste contexto de conflitos.Senão vejamos:<br />

“(...)veja, Sr. Fiscal, que a Província do Maranhão está hoje reduzi<strong>da</strong> somente, e<br />

concentra<strong>da</strong>, na Ilha, ou para bem dizer à Ci<strong>da</strong>de, e subúrbios, tudo o mais são Ci<strong>da</strong>dãos<br />

semelhantes aos que estão na mata referi<strong>da</strong>s dos Moquins, e que ninguém é capaz<br />

de desalojá-los...” (ibid. 1838: 7).<br />

“Não Sr.Dr.Fiscal, não dê asas aos Ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong>s Matas dos Moquins, e a outros sem<br />

número, por suas depreca<strong>da</strong>s, e portarias aerias (sic) e sediciosos; pois que a canalha<br />

depois <strong>da</strong> restauração <strong>da</strong> formosa e opulenta Bahia, ain<strong>da</strong> como desespera<strong>da</strong>, e pode<br />

muito bem voar sobre VM, sobre mim, sobre o Exm Presidente, sobre um grande<br />

número de homens de bem e pacíficos...” (ibid. 1838: 7).<br />

36. Leia-se Carvalho, Carlota. O Sertão. Rio de Janeiro: Emp. Ed. de Obras Científicas<br />

e Literárias, pp. 131-148, 1924. A autora descreve a atuação <strong>da</strong>s tropas governamentais<br />

sem se comprometer com a apologia do Pacificador do Maranhão, que marca os estudos<br />

consagrados referentes ao tema.<br />

37. Para um aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> ação dos quilombolas consulte-se: Moura, Clóvis.<br />

Rebeliões <strong>da</strong> Senzala. Rio de Janeiro: Conquista, 1972.<br />

Após a promulgação <strong>da</strong> Constituição de outubro de 1988 verifica-se copiosa bibliografia<br />

sobre os quilombos, referi<strong>da</strong> às disposições do Art. 68 do adct. Para uma leitura<br />

abrangente destes novos títulos consulte-se: Almei<strong>da</strong>, a.w.b. de. “Quilombos: Repertório<br />

Bibliográfico de uma questão redefini<strong>da</strong> (1995-1997).” bib <strong>–</strong> rbibcs n.º 45. 1.º<br />

semestre 1998, pp. 51-70. Neste repertório há inúmeras referências ao Maranhão, que<br />

foram inclusive amplia<strong>da</strong>s a partir de levantamento sobre as “terras de preto” realizado<br />

pelo Projeto Vi<strong>da</strong> de Negro <strong>–</strong> smdh a partir de 1988-89.<br />

38. Vide Relatório de 1844, op. cit., p. 3.<br />

A ideologia <strong>da</strong> decadência · 89

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