A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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machados e enxa<strong>da</strong>s procuravam também reunir o gado no campo separando<br />
reses para o seu consumo, nota<strong>da</strong>mente, na região de Pastos Bons<br />
(Ribeiro, 1819: 311).<br />
O fato de atacarem no mês de agosto e se satisfazerem com<br />
machados e enxa<strong>da</strong>s é essencial se for refletido em conformi<strong>da</strong>de com<br />
o calendário agrícola. Trata-se <strong>da</strong> fase chama<strong>da</strong> de derruba ou de preparação<br />
de terrenos para plantio em que o machado é imprescindível 16 ,<br />
mesmo para muitos grupos indígenas <strong>da</strong> região.<br />
Os ataques no período do inverno (janeiro a julho) se caracterizavam<br />
por furtos dos gêneros dos paióis e armazéns. Trata-se <strong>da</strong> fase em<br />
que se registra as maiores dificul<strong>da</strong>des entre os pequenos produtores<br />
agrícolas, que integravam a população livre, para assegurarem o seu sustento.<br />
É provável que, para os muitos povos indígenas que viviam <strong>da</strong><br />
agricultura, esta também se constituísse num fase difícil. Os ataques,<br />
inclusive nas imediações de Caxias, principal centro comercial, eram freqüentes<br />
conforme o atestam Xavier e Ribeiro. 17<br />
Os intérpretes não reconhecem as ativi<strong>da</strong>des agrícolas dos povos<br />
indígenas como produtivas e sustentam que <strong>da</strong><strong>da</strong> a sua itinerância não<br />
lhes ocasiona maiores per<strong>da</strong>s a destruição de suas habitações pelas bandeiras<br />
e pelas tropas <strong>da</strong> linha. Gaioso, com base neste argumento, chega<br />
16. A respeito deste calendário agrícola faz-se necessário consultar o trabalho manuscrito<br />
de Gaioso, <strong>da</strong>tado de 1798, intitulado: Discripção do methodo que actualmente se<br />
pratica nesta Capitania para a cultura e manipulação dos generos, que se exportão para o<br />
Reino, assim como <strong>da</strong>s maquinas que servem para limpar e descaroçar o algodão.<br />
Descreve as etapas correspondentes ao cultivo do algodão, <strong>da</strong> cana, do arroz, <strong>da</strong><br />
mandioca, do gergelim, do gerimum, do milho, do feijão, <strong>da</strong> batata e diferentes quali<strong>da</strong>des<br />
de cará.<br />
17. Na descrição de Ribeiro feita em 1815 ele deixa entrever a importância de Caxias, no<br />
que tange à circulação de mercadorias: É a villa de Caxias uma continua<strong>da</strong> feira, onde<br />
de muito destante os povos dos sertões confinantes trazem à ven<strong>da</strong> os seus effeitos, que<br />
constam de algodão, solas, couros de veado e cabra, tabacos de fumo, gados, escravaturas<br />
<strong>da</strong> Bahia, cavallarias e tropas de machos, a que chamam burra<strong>da</strong>s, levando em troco to<strong>da</strong><br />
a quanti<strong>da</strong>de de generos <strong>da</strong> Europa.(Ribeiro,1815:52) (g.n.)<br />
Segundo Ribeiro aí se juntavam de janeiro a julho de ca<strong>da</strong> ano as boia<strong>da</strong>s que<br />
deman<strong>da</strong>vam do Piauí e dos sertões <strong>da</strong> capitania, para serem vendi<strong>da</strong>s aos "contratores<br />
do talho publico <strong>da</strong> capital ou aos lavradores do Itapicuru, que para o sustento de<br />
suas escravaturas compram a maior parte (Ribeiro, Ibid.: 49) (g.n.).<br />
18. Fr. N. S. dos Prazeres corrobora esta imagem e não vê a “indolência” como determina<strong>da</strong><br />
pelo clima, mas sim por fatores hereditários: Os índios uns vivem christianizados<br />
entre nós, outros selvagens nos matos, estes chamam-se tapuios ou gentios, Os christianizados,<br />
a que também chamam caboclos, já quazi todos tem passado, a mestiços, mas não<br />
deixaram ain<strong>da</strong> a indolência de seus ascendentes. (N. S. dos Prazeres, Ibid.: 135) (g.n.).<br />
48 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>