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A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

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fruto <strong>da</strong> subordinação dos intérpretes às versões oficiais fixa<strong>da</strong>s pelo<br />

campo de poder (Bourdieu, 1974). Nutrindo uma descontinui<strong>da</strong>de, que<br />

institui uma pré-história <strong>da</strong> agricultura, sem desenvolver um esforço de<br />

repensá-la, deixando-a prudentemente em suspenso, corre-se o risco de<br />

endossar o oficialismo <strong>da</strong> época acerca <strong>da</strong> representação de um tempo<br />

histórico e suas respectivas divisões em fases ou períodos.<br />

Em ver<strong>da</strong>de, os chamados princípios <strong>da</strong> lavoura que estão em pauta<br />

referem-se ao advento <strong>da</strong> legislação pombalina e a determina<strong>da</strong>s<br />

medi<strong>da</strong>s que favoreceram a predominância, ao nível do sistema econômico,<br />

dos denominados lavradores e de suas respectivas uni<strong>da</strong>des de<br />

produção, quais sejam as plantações com base no trabalho escravo e<br />

coaduna<strong>da</strong>s com a deman<strong>da</strong> do mercado internacional.<br />

Neste sentido é que a <strong>da</strong>ta canônica, 1756, antes de manifestar<br />

uma certeza indubitável encontra-se envolta em intenções políticas e<br />

propósitos, que abrem uma diversi<strong>da</strong>de de in<strong>da</strong>gações e questionamentos<br />

sobre os valores intrínsecos <strong>da</strong>s interpretações que a instituíram.<br />

Além de veicular um ponto de vista oficial, correspondente à época<br />

<strong>da</strong> menciona<strong>da</strong> origem, ou seja, do reinado de D. José i e, em particular,<br />

do governo de Joaquim de Melo e Póvoas 14 no Maranhão a história <strong>da</strong><br />

lavoura, tal como periodiza<strong>da</strong> pelos intérpretes analisados, se confunde<br />

com a representação, dos denominados lavradores, contemporânea ao<br />

tempo em que as interpretações foram produzi<strong>da</strong>s, entre 1813 e 1822.Da<br />

<strong>da</strong>ta canônica, que evidencia o que se convencionou chamar princípios <strong>da</strong><br />

lavoura, até o momento em que os intérpretes dão mostras de perceber<br />

um declínio geral transcorre portanto pouco mais de meio século, que é<br />

o tempo vivido como de êxito e sucesso pelos grandes proprietários <strong>da</strong>s<br />

fazen<strong>da</strong>s de algodão, também cognominados sesmeiros ou lavradores.<br />

Com a adoção destes marcos pela produção intelectual universaliza-se<br />

a visão de uma classe social determina<strong>da</strong> para o conjunto <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de colonial. O seu sucesso é lido, registrado e transmitido como<br />

o sucesso <strong>da</strong> própria região.<br />

Isto se esclarece ain<strong>da</strong>, quando se depara nos textos de Gaioso, G.<br />

de Abranches e Fr. N. S. dos Prazeres com registros, que tentam transmitir<br />

representações correntes no período, atribuí<strong>da</strong>s aos denominados<br />

lavradores que exaltam aquele passado referido.<br />

14. Joaquim de Melo e Póvoas governou o Maranhão em dois man<strong>da</strong>tos consecutivos<br />

entre 1761 e 1779. Primeiro como governador <strong>da</strong> Capitania do Maranhão e depois como<br />

Governador e Capitão-Geral, quando se formou o Estado do Maranhão e do Piauí.<br />

44 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>

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