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A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

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Podendo trabalhar a terra e se beneficiar diretamente de seu trabalho<br />

os colonos se recusavam a trabalhar para outrem, rompiam com<br />

as amarras dos regulamentos para serem donos de seu próprio trabalho.<br />

A literatura oficial, preconcebi<strong>da</strong> e clamando por sanções legais,<br />

registra que tais colonos disseminados pela Província vagavam e se<br />

mantinham no ócio.<br />

A vadiagem e a ociosi<strong>da</strong>de a que se referem os textos oficiais evidenciam<br />

que os colonos passam a ser classificados conforme a representação<br />

prevalecente, que se tinha <strong>da</strong> “população livre” do sertão a qual com seus<br />

pequenos roçados cultivando arroz, mandioca e feijão permanecia não<br />

submissa aos grandes proprietários <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s de algodão e <strong>da</strong> cana.<br />

Como to<strong>da</strong>s as classificações cui<strong>da</strong>dosamente elabora<strong>da</strong>s, é esta<br />

útil e evidente para quem a formula, mas como to<strong>da</strong>s as classificações é<br />

falsa. Suas regras têm que ser capta<strong>da</strong>s para além <strong>da</strong>s evidências e <strong>da</strong>quilo<br />

que quer transparecer. Os empresários, parafraseando Marx (Ibid., 211),<br />

previam tudo, menos de trazer as relações de produção de Portugal para<br />

Cururupu. E ficaram só como o “infeliz Peel” (Marx, Ibid., 210) que levou<br />

3.000 trabalhadores <strong>da</strong> Inglaterra a Austrália Ocidental e chegando ao<br />

lugar de destino ficou sem um empregado para fazer sua cama ou para<br />

lhe trazer água do rio. Os meios de produção e de subsistência, de posse<br />

dos trabalhadores não representam capital, só o representam em situações<br />

nas quais prestam também de meios para explorar e dominar o<br />

trabalhador (Marx, Ibid., 211).<br />

Os empresários abandonados pelos colonos não podiam entender<br />

a evasão como uma atitude que fosse resultar em trabalho. Viam-na<br />

como prova <strong>da</strong> ociosi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> má índole dos colonos. As<br />

regras que organizam sua concepção de trabalho passavam necessariamente<br />

pela acumulação de capital. A exploração do trabalho alheio é<br />

naturalmente incorpora<strong>da</strong> em sua visão do que seja trabalhar e ser produtivo.<br />

Daí o conflito inevitável com os colonos, enquanto produtores<br />

diretos que se apropriavam dos frutos de sua ativi<strong>da</strong>de produtiva.<br />

A desagregação <strong>da</strong>s colônias ocorreu também pelo desmembramento<br />

de suas extensões de terras entre algumas famílias de colonos e<br />

pela revisão dos contratos de parceria.<br />

No primeiro caso encontra-se a Colônia Petrópolis cujo empresário,<br />

Francisco Marques Rodrigues, rescindiu seu acordo legal com a<br />

presidência <strong>da</strong> província. Tendo-se comprometido a apresentar por todo<br />

o ano de 1855 o total de 200 colonos e também de man<strong>da</strong>r vir outros para<br />

A ideologia <strong>da</strong> decadência · 117

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