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A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

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A própria prosperi<strong>da</strong>de referi<strong>da</strong>, em sendo considera<strong>da</strong> efêmera, antes de<br />

ser antagônica à decadência, que é indica<strong>da</strong> para explicar, guar<strong>da</strong> com ela<br />

uma estreita relação de continui<strong>da</strong>de. Isto, bem dito, do ponto de vista<br />

de um governante provincial, em 1856, que de maneira indubitável já estava<br />

pressentindo certas transformações devido à interdição <strong>da</strong> importação<br />

de escravos <strong>da</strong> África e <strong>da</strong> ven<strong>da</strong>, em grande quanti<strong>da</strong>de, dos escravos do<br />

Nordeste e do Norte para as “províncias do Sul” onde a lavoura cafeeira<br />

em florescimento deman<strong>da</strong>va imensos contingentes de mão-de-obra. 9<br />

Ao reconstituir desta forma o elo de continui<strong>da</strong>de com o passado,<br />

manifesto por uma severa restrição ao emprego <strong>da</strong> mão-de-obra<br />

escrava, o intérprete oficial encontra-se referido a uma polêmica que marca<br />

o campo ideológico até quase o final do século xix: a oposição ao<br />

trabalho escravo pelo trabalho livre. Procede a uma leitura do passado<br />

com noções toma<strong>da</strong>s às teorias do liberalismo econômico, que consideram<br />

o trabalho escravo como um obstáculo às inovações e ao avanço <strong>da</strong>s<br />

técnicas produtivas.<br />

Visto como atrelado às técnicas de cultivo classifica<strong>da</strong>s como<br />

rudimentares e como dificultando a elevação <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de o trabalho<br />

escravo era tido então como inferior ao trabalho livre e diretamente<br />

associado ao chamado estado decadente <strong>da</strong> lavoura.<br />

9. O comércio interprovincial de escravos supria principalmente as Províncias do Rio<br />

de Janeiro e de São Paulo. Os municípios do Vale do Paraíba, zona de maior produção<br />

cafeeira do país entre 1850 e meados de 1900, constituiam-se no centro deste comércio.<br />

Segundo Stein aí “aportavam os escravos provindos do Maranhão, de Fortaleza, de<br />

Pernambuco e <strong>da</strong> Bahia, quando o tráfico interprovincial substituiu as importações<br />

africanas.” (Stein, 1961:83) (g.n.)<br />

Não obstante terem dobrado os preços dos escravos entre 1852 e 1854 estas exportações<br />

para as regiões de expansão econômica do país, no século xix, mantiveram-se<br />

crescentes. De acordo com Stein (Ibid: 78) as secas dos anos 70, que atingiram profun<strong>da</strong>mente<br />

o Nordeste estimularam ain<strong>da</strong> mais estes deslocamentos de mão-de-obra.<br />

O autor menciona casos do tráfico de escravos de São Luís (ma) para “uma praia<br />

de Niterói” e também para o município de Vassouras. Relata que haviam sido criados<br />

numa fazen<strong>da</strong> de algodão e de mamona do Maranhão (Ibid: 86).<br />

Para um aprofun<strong>da</strong>mento deste ponto leia-se Stein, Stanley J. Grandeza e <strong>Decadência</strong><br />

do café. São Paulo: Ed. Brasiliense, pp. 74-95, 1961.<br />

Outro registro concerne à disputa entre a escrava Eubrásia, que vivera no Maranhão<br />

até 1879, e foi leva<strong>da</strong> para Campinas (sp) compra<strong>da</strong> pela socie<strong>da</strong>de Calhelha & Villares,<br />

e esta empresa. Decidi<strong>da</strong> a promover sua liber<strong>da</strong>de por indenização a seu senhor, Eubrásia<br />

depositou na coletoria de Campinas, em 1881, a quantia de 300 mil réis.<br />

Cf. Mendonça, Joseli N. Cenas <strong>da</strong> Abolição. Escravos e senhores no Parlamento e na<br />

Justiça. S. Paulo: Ed. F. P. Abrano, p. 63, 2001.<br />

70 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>

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