A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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do pelos escravos negociados possibilitava isto, nutrindo também um<br />
contrabando constante de escravos, que burlava os registros provinciais.<br />
Ademais os próprios lavradores dão a entender 33 que esta exportação<br />
não afeta a produção, num raciocínio aproximado àquele<br />
desenvolvido por César A. Marques, só que com outra justificativa, ou<br />
seja, alegam que ela se constituiu de escravos indisciplinados e vadios só<br />
fazendo depurar o estoque de trabalhadores disponíveis.<br />
Semelhante evento, por si só, a despeito de demonstrar que<br />
expressivo percentual <strong>da</strong> população escrava 34 não é mais incorporado à<br />
sua produção, parece não reunir materiais evidentes para evidenciar a<br />
repeti<strong>da</strong> “falta de braços” em sua plenitude. Para a apreensão desta<br />
maior abrangência impõe-se recorrer aos demais elementos que lhe<br />
emprestam sentido.<br />
Consoante com a ideologia <strong>da</strong> “falta de braços” o sistema repressor<br />
<strong>da</strong> força de trabalho, no contexto <strong>da</strong>s interpretações ilustra<strong>da</strong>s, é<br />
sempre apresentado como carecendo de aperfeiçoamento e reforço. As<br />
tropas de linha funcionam como fiscalizadoras do processo de produção<br />
sendo desloca<strong>da</strong>s a todo instante para os quatro cantos <strong>da</strong> Província<br />
e os próprios lavradores solicitam freqüentemente sua intervenção.<br />
Desempenham o papel de controle e vigilância dos agentes de produção<br />
que, porventura, consigam burlar os feitores, capatazes e demais<br />
prepostos encarregados diretos <strong>da</strong> disciplina. 35<br />
33. Cf. Jornal <strong>da</strong> Lavoura ibid.<br />
34. Cf. Quadro estatístico dos escravos matriculados no Império organizado pela Diretoria<br />
Geral de Estatística e publicado em Nação de 26 de novembro de 1874 a Província<br />
do Maranhão possuía então 74.939 escravos.<br />
35. Bem ilustra esta interpretação dos lavradores os fatos narrados na solicitação assina<strong>da</strong><br />
por m.p.s.z., <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> São Paulo, localiza<strong>da</strong> na região de Brejo, Baixo<br />
Parnaíba, de 27 de outubro de 1838, intitula<strong>da</strong> Artigo comunicado, memorável e digno de<br />
espanto, publica<strong>da</strong> no Maranhão no mesmo ano pela Typ. de Ricardo Antonio Rodrigues<br />
d'Araújo. O referido lavrador narra ao “Sr. Dr. Fiscal” <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> Pública, cujo nome não<br />
menciona explicitamente, situações de conflito com oficiais de justiça e auxiliares do<br />
escrivão Antonio Bernardo Teixeira de Castro, que foram à sua fazen<strong>da</strong> proferir ameaças,<br />
sob pretexto de resgatar escravos fugidos, e aproveita o ensejo para informar sobre “foragidos”,<br />
“sediciosos”, “ladrões”, “salteadores” e “assassinos” que se acham abrigados nas<br />
Matas dos Moquins, também chama<strong>da</strong>s de Moquém. Recor<strong>da</strong> que, na déca<strong>da</strong> passa<strong>da</strong>,<br />
Lord Cochrane lhe teria confiscado 20 bois. Menciona também o Brigadeiro Anacleto<br />
Henriques Franco e as disputas entre o testamenteiro e herdeiros do Major Feliciano<br />
Henriques Franco, sublinhando que a este tempo o Império tinha um exército regular<br />
apoiado nas famílias ilustres dos grandes senhores de terras e escravos. Neste relato as<br />
dívi<strong>da</strong>s de fazendeiros para com a Fazen<strong>da</strong> Pública, no contexto de transmissão de<br />
A ideologia <strong>da</strong> decadência · 87