A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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Retomando-se a análise do esquema de explicação estu<strong>da</strong>do,<br />
observa-se que do ponto de parti<strong>da</strong> traçado <strong>–</strong> 1755 <strong>–</strong> em diante os documentos<br />
oficiais se empenham em descrever o substrato <strong>da</strong> prosperi<strong>da</strong>de<br />
transitória. Os analistas conjugam a expansão <strong>da</strong> lavoura algodoeira com<br />
o desenvolvimento <strong>da</strong> indústria manufatureira <strong>da</strong> Inglaterra e enfatizam<br />
o algodão secun<strong>da</strong>do pelo arroz, ambos como os principais produtos de<br />
exportação <strong>da</strong> província. O intervalo de tempo classificado como i<strong>da</strong>de<br />
de ouro coincide com a intensa exportação destes produtos, que é<br />
propiciadora <strong>da</strong>s mais importantes fontes de divisa <strong>da</strong> província. Confirmando,<br />
porém, a sua transitorie<strong>da</strong>de os intérpretes, passo seguinte, na<br />
ordem de exposição dos textos, se apressam em anunciar o seu declínio:<br />
“O ano de 1819 foi estéril e mais estéril ain<strong>da</strong> o de 1820” (Ibid: p. 76) (g.n.).<br />
O balizamento convencional deste período de prosperi<strong>da</strong>de tem<br />
suas primeiras marcas assinala<strong>da</strong>s em 1778, <strong>da</strong>ta em que é declara<strong>da</strong><br />
extinta a Companhia do Comércio do Estado do Grão-Pará e Maranhão,<br />
e as definitivas em 1819-1820.<br />
Contudo, o que é apresentado como fazendo cessar a prosperi<strong>da</strong>de<br />
não é propriamente o emprego de escravos, como anteriormente se<br />
manifestava, ou a chama<strong>da</strong> “falta de braços”, mas sim a baixa súbita do<br />
preço do algodão no mercado internacional. A Falla que recitou o<br />
Presente <strong>da</strong> Província Joaquim Alvares do Amaral na abertura <strong>da</strong><br />
Assembléia Provincial em 28 de julho de 1848 registra o seguinte:<br />
Esta Província, que tanto prosperou pela riqueza de seus produtos<br />
agrícolas, tem caído por esta parte em decadência em<br />
razão <strong>da</strong> baixa considerável, que tem sofrido no mercado o<br />
preço do algodão que, como se sabe, constitui o ramo de sua<br />
maior lavoura. (Alvares do Amaral, 1848: 32) (g.n.) 12<br />
esquecendo-se de que, no jogo complexo dos compromissos entre os ideais e a prática,<br />
a liber<strong>da</strong>de de trabalho que construiu o capitalismo moderno repudiou dentre seus<br />
componentes básicos a posse dos instrumentos de produção. A mão-de-obra livre que<br />
poderia servir, eventualmente, aos interesses dos antigos proprietários de escravos teria<br />
de ser livre num sentido bem diverso: livre <strong>da</strong> posse <strong>da</strong> terra e dos instrumentos de trabalho.”<br />
(Cardoso, 1977: 197).<br />
12. Segundo Janotti (1977:1 16) este documento foi elaborado por políticos e produtores<br />
intelectuais, que apoiavam o Presidente Antonio J. A. Amaral ao tempo em que João<br />
Francisco Lisboa era deputado na mesma facção, e publicado no periódico Publicador<br />
Maranhense, n.º 695 de 17 de agosto de 1848, do qual Lisboa era o re<strong>da</strong>tor. A autora<br />
procura deixar claro, com tal menção, que Lisboa como os demais intelectuais <strong>da</strong><br />
72 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>