A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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a identi<strong>da</strong>de que os agrupa e define e que uma situação de guerra, em<br />
que afluem as contradições fun<strong>da</strong>mentais, serve para aclarar.<br />
Por esta classificação assim decomposta, em elementos constitutivos<br />
com pretensões lógicas, é que se vai desfiando o significando <strong>da</strong><br />
referi<strong>da</strong> “falta de braços” e <strong>da</strong>s iniciativas com finali<strong>da</strong>de supridora. O<br />
reconhecimento de uma ideologia de aprimoramento de sistema repressor<br />
<strong>da</strong> força de trabalho é que funciona como um suporte básico à sua<br />
compreensão e entendimento. 41<br />
a colonização e a emigração<br />
estrangeira<br />
A relevância do problema <strong>da</strong> “falta de braços”, no conjunto dos elementos<br />
que servem para demonstrar a disposição geral, que informa o padrão<br />
de explicação em estudo, é equivalente àquela <strong>da</strong> medi<strong>da</strong> supridora que<br />
lhe corresponde. A intitula<strong>da</strong> “falta de braços” e a medi<strong>da</strong> complementar<br />
que lhe é correspondente aparecem gemina<strong>da</strong>s na documentação oficial.<br />
Dispostas duas a duas e se complementando mutuamente, gozam de uma<br />
só importância, a mesma, e de uma posição idêntica. Harmonizam-se<br />
na narrativa dos administradores. À primeira carência tem perfeita correspondência<br />
a primeira iniciativa provedora. Ao destaque do problema<br />
<strong>da</strong> “falta de braços” acena-se em razão direta, na ordem de exposição dos<br />
textos, com a medi<strong>da</strong> redentora <strong>da</strong> “introdução de braços livres”. 42 Aparecem,<br />
neste contexto, os termos “colonização” e “emigração estrangeira”<br />
nomeando as decisões maiores do poder provincial, inspirado por uma<br />
situação que é ti<strong>da</strong> como comum a todo o país.<br />
41. É óbvio que tais considerações, transcendendo aos limites propostos por esta pesquisa,<br />
implicam num repensar acura<strong>da</strong> e criticamente to<strong>da</strong>s as formulações preconcebi<strong>da</strong>s<br />
referentes à Balaia<strong>da</strong>, às “correrias” dos grupos indígenas e à movimentação dos quilombolas.<br />
As galerias de malfeitores, firma<strong>da</strong>s pela historiografia oficial <strong>da</strong> Província, teriam<br />
que ser revistas porquanto Negro Cosme, Balaio, Trovão, Corisco, Relâmpago, Raio,<br />
Canina, Sete Estrelas, Tetêo e tantos outros podem, na ver<strong>da</strong>de, ser vistos como bandidos<br />
sociais. Quer isto dizer, de acordo com Hobsbawn que a ação destes denominados<br />
salteadores, facinorosos, desertores, desordeiros, ociosos, vadios e quilombolas pode ser<br />
analisa<strong>da</strong> como uma forma primitiva de protesto social organizado.<br />
A propósito, leia-se: Hobsbawn, Eric J. Rebeldes Primitivos <strong>–</strong> estudo sobre as formas<br />
arcaicas dos movimentos sociais nos séculos xix e xx. Rio de Janeiro: Zahar Eds., pp. 11-<br />
45, 1970.<br />
42. Vide Relatório de 1844, op. cit., p. 15.<br />
92 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>