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A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...

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ate e rebate interminavelmente e tão-só em pontos polares. Não padece<br />

de dúvi<strong>da</strong>s tal movimento. Tampouco contém senões. Reproduz-se<br />

deste modo o que se supõe óbvio como se de fato fosse óbvio. Não há<br />

qualquer discernimento entre a representação de um evento e o próprio<br />

evento na imediatici<strong>da</strong>de de sua ocorrência. Ancorado neste pressuposto<br />

o esquema explicativo em jogo jamais é exaustivamente exposto e<br />

nem arrola novos e convincentes argumentos. Imagina-se que o que<br />

devia ser dito já o foi, inexistindo, portanto, qualquer novi<strong>da</strong>de no contexto<br />

deste conhecimento produzido pelos autores consagrados.<br />

Tem-se o império <strong>da</strong> auto-evidência sobre a monotonia e o assentimento,<br />

que caracterizam a totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s interpretações sobre a história<br />

<strong>da</strong> lavoura e sobre o próprio Maranhão, interpretações que acabam por<br />

se confundir no tempo. A decadência não é passível de demonstração<br />

porque já é <strong>da</strong><strong>da</strong>. Admite-se-a como ver<strong>da</strong>deira, porquanto dela se<br />

podem inferir as proposições de um sistema lógico. Sua incontestabili<strong>da</strong>de<br />

emana desta característica axiomática.<br />

A logici<strong>da</strong>de imposta funciona no mais <strong>da</strong>s vezes como uma linguagem<br />

particular <strong>da</strong>queles cujos esforços intelectuais se voltam para<br />

uma análise <strong>da</strong> agricultura. Abrange termos e imagens cativas à feição<br />

de um mito, 2 que se constituem na fala escolhi<strong>da</strong> pela história regional.<br />

Um tipo de fala que não postula um saber específico e tampouco requer<br />

<strong>da</strong>queles que dela se utilizam uma formação acadêmica determina<strong>da</strong> ou<br />

critérios de competência e saber exclusivos.<br />

As representações que articulam tanto marcam as interpretações<br />

dos denominados patronos e clássicos e os seus epígonos letrados,<br />

quanto se derramam nas versões rotineiras de um público amplo e indiferenciado.<br />

Verifica-se uma continui<strong>da</strong>de entre o que foi firmado pela<br />

tradição erudita, quase dois séculos atrás, e as visões correntes no tempo<br />

presente. A vulgarização <strong>da</strong>s interpretações dos autores consagrados,<br />

que produziram nas duas primeiras déca<strong>da</strong>s do século xix, tais como<br />

Gaioso, Garcia de Abranches e Paula Ribeiro, foi de grande alcance.<br />

Contemporaneamente suas interpretações integram o senso-comum.<br />

Da mesma maneira foram difundi<strong>da</strong>s as metáforas do discurso<br />

médico, de que se valiam para conceber o Maranhão qual um “corpo<br />

doente”, cujos denominados males careciam de medi<strong>da</strong>s cognomina<strong>da</strong>s<br />

remédios. A pretensão aplica<strong>da</strong> <strong>da</strong>s interpretações intentava veicular<br />

2. Para um aprofun<strong>da</strong>mento desta concepção de mito leia-se: Barthes, Roland. Mitologias.<br />

São Paulo: Difusão Européia do Livro, pp. 129-178, 1972.<br />

148 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>

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