A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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leva<strong>da</strong> a termo entre dezembro e março, período que seguramente já se<br />
tinha semeado e que já se aguar<strong>da</strong>va a colheita do arroz.<br />
Do ponto de vista do governo provincial resolvia-se em parte o<br />
problema de como manter os “colonos cearenses” até a primeira<br />
colheita, visto que, cabia a ele suprir de víveres os núcleos coloniais até<br />
que começassem a produzir. Em outras colônias registra-se ordens<br />
do presidente autorizando os diretores <strong>da</strong>s demais a comprar duas<br />
“matalutagens por semana” afim de serem por eles distribuí<strong>da</strong>s em<br />
“rações” aos colonos cearenses.<br />
No caso do extinto quilombo Limoeiro entregava-se ao colono<br />
uma área convenientemente socializa<strong>da</strong>, segundo padrões próximos aos<br />
seus, com caminhos traçados, trilhas e desmatamentos principais já realizados,<br />
capoeiras e uma possibili<strong>da</strong>de de ampliação e continui<strong>da</strong>de nas<br />
roças por se tratar de uma região de matas virgens, as quais inclusive<br />
prescindem de capina ou de limpa, quando <strong>da</strong>s primeiras semeaduras.<br />
Além do mais, as terras onde os quilombolas se assentavam, sendo eles<br />
vinculados essencialmente à ativi<strong>da</strong>de agrícola, deveriam ser agricultáveis<br />
por excelência, o que lhes assegurava uma produção capaz de ser<br />
comercializa<strong>da</strong> com os povoados dos chamados caboclos e seus respectivos<br />
comerciantes.<br />
As possibili<strong>da</strong>des de êxito destes “núcleos de colonização” eram<br />
consideráveis. E isto num período em que o governo provincial não dispunha<br />
de grandes recursos, nem para receber mais “emigrantes”<br />
(Fernando Ribeiro, 1878) e que o espectro <strong>da</strong> denomina<strong>da</strong> decadência <strong>da</strong><br />
lavoura continuava a prevalecer.<br />
A percepção do governo provincial de realizar assim sua “colonização”<br />
possibilitava uma identificação entre os quilombolas, que<br />
poderiam, considerados os embates militares, ser analisados baixo a ótica<br />
de um desenvolvimento espontâneo de campesinato, e os “colonos<br />
cearenses” que fariam a vez do “colono dirigido”. 101<br />
O Estado, desta maneira, ao “criar” numa região de terras livres,<br />
através de seus núcleos de colonização, uma cama<strong>da</strong> camponesa, pode<br />
estar fazendo com que ela contribua para subordinar outros possíveis<br />
produtores, aí já instalados, à sua dominação.<br />
101. Não se está querendo com isto afirmar que os quilombolas eram “camponeses” ou<br />
que ideologicamente poderiam ser situados assim, apesar <strong>da</strong> existência de irrecusáveis<br />
similitudes.<br />
140 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>