A Ideologia da Decadência – Leitura antropo - Nova Cartografia ...
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os entraves<br />
À reconstituição histórica empreendi<strong>da</strong> principalmente por Gaioso, visto<br />
que os demais prescindem dela, sucede a análise do presente que é o<br />
tempo contemporâneo ao que os intérpretes estão falando e à ocorrência<br />
do evento nomeado como decadência <strong>da</strong> lavoura. Percebe-se que o<br />
acontecimento é explicado pela exposição dos denominados entraves,<br />
ou seja, pelo que se supõe impedir que a denomina<strong>da</strong> lavoura possa se<br />
desenvolver. Este termo, que perpassa as interpretações de Gaioso, G. de<br />
Abranches e Xavier expressa, geralmente, as flutuações do preço <strong>da</strong><br />
escravatura e do algodão no mercado e a inúmeras “faltas” considera<strong>da</strong>s<br />
imprescindíveis de serem preenchi<strong>da</strong>s. O esquema, assim desenhado,<br />
facilita a apresentação <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s, também chama<strong>da</strong>s de “providências”<br />
por Gaioso, que se referem às formas de suprir as lacunas assinala<strong>da</strong>s.<br />
A menciona<strong>da</strong> decadência é pensa<strong>da</strong> simultaneamente pelas “faltas”<br />
e pelas medi<strong>da</strong>s capazes de supri-las. Tal relação é que a explica e<br />
orienta a ordem de exposição dos diversos textos intercalando os chamados<br />
entraves ou males com as aludi<strong>da</strong>s providências ou remédios.<br />
O que Gaioso considera como sendo o “primeiro entrave”<br />
(Gaioso, Ibid., 228) juntamente com Xavier e Ribeiro é a denomina<strong>da</strong><br />
“falta de terras por causa do gentio”. As terras onde se cultiva o algodão<br />
no Vale do Itapecuru são vistas como “terras cansa<strong>da</strong>s” (Gaioso, Ibid.) e<br />
pouco produtivas. Exigem sempre um maior contingente de mão-deobra,<br />
<strong>da</strong>í os intérpretes considerarem fun<strong>da</strong>mental a expansão <strong>da</strong>s<br />
lavouras para oeste, no sentido do Mearim.<br />
Xavier chega a advertir o seguinte: “abandonem o projecto de<br />
aumentar-se em Lavoura e consequentemente que este importante<br />
Ramo, cáhia em desgraça apathia e Ruina” (Xavier, Ibid.: 307) (g.n.).<br />
A recusa <strong>da</strong> expansão é associa<strong>da</strong> a termos como ruína e apatia,<br />
que à primeira vista são simplesmente intercambiáveis com a empressão<br />
decadência <strong>da</strong> lavoura. Entretanto, as regras de uso destes termos<br />
apontam para as particulari<strong>da</strong>des de agudizar os obstáculos arrolados e<br />
de alertar para a sua gravi<strong>da</strong>de.<br />
A expansão <strong>da</strong>s lavouras se apresenta ain<strong>da</strong> como medi<strong>da</strong> consensual,<br />
porquanto não há quem a desdiga. Defronta-se porém, com os<br />
grupos indígenas que habitam e cultivam as terras pretendi<strong>da</strong>s e que<br />
inclusive promovem incursões guerreiras contra aquelas fazen<strong>da</strong>s, que<br />
tentam incorporar novas áreas de seus territórios.<br />
46 · alfredo wagner b. de almei<strong>da</strong>