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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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que aos negros, não importando a gravida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>lito. É raro um registro <strong>de</strong> maus tratos<br />

ao primeiro imediato ou ao médico, mas diversos são encontrados, quando se trata dos<br />

outros cargos: “Corrigi o carpinteiro com 12 açoites por promover uma arruaça<br />

enquanto buscavam lenha...” [Corrected the Carpenter with dozen stripes of the cat for<br />

making a commotion while fetching wood... (PHILLIPS, 1993, p. 103, grifos nossos)].<br />

Do mesmo modo, o tratamento dado aos escravos doentes praticamente não<br />

existia pois, na escala hierárquica, encontram-se, nos últimos lugares, o negro e, por<br />

fim, a escrava (duplamente inferiorizada por ser negra e mulher). Primeiramente, vê-se<br />

que eles são nomeados apenas como ‘escravos’, ou seja, não têm nome, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: “O<br />

sr. Lewis me prometeu 2 dúzias dos melhores escravos se eu ficar por mais alguns dias”<br />

[Mr Lewis has promised me 2 dozen of the finest slaves if I will tarry a few more days<br />

(...) (PHILLIPS, 1993, p. 105, grifo nosso)]. Mas, pior que isso, quando há referência a<br />

um <strong>de</strong>les, esta é feita por números, como uma mercadoria, já que é assim que o capitão<br />

os consi<strong>de</strong>rava, pois este era seu ‘negócio’:<br />

(...) Des<strong>de</strong> o pôr-do-sol até a meia noite t<strong>em</strong>po muito ruim,<br />

chuva forte, fortes correntes <strong>de</strong> ar e ondas muito altas. Numa<br />

t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong> 2 meninas escravas, que estavam doentes há<br />

t<strong>em</strong>pos, morreram. Nos 117 e 127.<br />

[(...) From sunset till midnight very coarse weather, hard rain,<br />

strong gusts of wind and a very high swell. In this commotion 2<br />

girl slaves, who have long been ill of a flux, died. Nos 117 and<br />

127. (PHILLIPS, 1993, p. 116, grifos nossos)]<br />

O fato <strong>de</strong> numerar os negros ou <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rá-los como coisas é um ex<strong>em</strong>plo<br />

flagrante da objetificação ou da outr<strong>em</strong>ização que, neste caso, se dá nas três formas<br />

<strong>de</strong>scritas por Spivak (1987), quais sejam, (a) a exploração física do território, (b) o ato<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>negrir o nativo (<strong>de</strong>nominando-o ‘bestial’, preguiçoso etc.) e (c) a construção do<br />

hiato entre o europeu (eu) e o outro (ele). Assim, o colonizado acaba por ser “uma<br />

criação do império e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, o sujeito <strong>de</strong>gradado do discurso imperial<br />

(BONNICI, 2005, p. 45).<br />

e é<br />

O capitão é aquele que observa os escravos, é qu<strong>em</strong> olha e escreve sua história<br />

através do olhar, da vigilância (...) sinônimos do po<strong>de</strong>r, que o<br />

colonizador <strong>de</strong>fine a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do sujeito colonial, objetifica o<br />

sujeito no sist<strong>em</strong>a i<strong>de</strong>ntificador das relações do po<strong>de</strong>r e salienta<br />

a subalternida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le. Através do olhar, o sujeito colonial é<br />

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