Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Por outro lado, como o próprio nome sugere, a mímica e a paródia po<strong>de</strong>m ser<br />
sarcásticas e tornar ridículos os padrões colonizadores. Elas também são consi<strong>de</strong>radas<br />
como <strong>de</strong>fesa, já que um abismo é criado: o colonizador se vê a partir <strong>de</strong> uma perspectiva<br />
diferente. Ele vê que sua ‘criação / criatura’ – o outro – não é o mesmo que encontrou e<br />
n<strong>em</strong> o mesmo que ‘a<strong>de</strong>strou’ e que, conseqüent<strong>em</strong>ente, o negro não está <strong>completa</strong>mente<br />
colonizado e po<strong>de</strong> se tornar uma ameaça, já que percebe os pontos fracos do invasor.<br />
Nas palavras <strong>de</strong> ASHCROFT et al. (1989, p. 88), “a distinção se dá entre a experiência<br />
autêntica do mundo real e da experiência não autêntica da periferia <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada” [the<br />
distinction is between the authentic experience of the ‘real’ world and the inauthentic<br />
experience of the unvalidated periphery].<br />
Essa oposição é vista nos mais diferentes aspectos:<br />
or<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, autenticida<strong>de</strong> e falsida<strong>de</strong>, realida<strong>de</strong> e<br />
irrealida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>r e impotência, até entre o ser e o nada. É claro<br />
que a dominação do centro e sua aprovação <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser abolidas<br />
antes que a experiência da ‘periferia’ possa ser totalmente<br />
validada.<br />
[Or<strong>de</strong>r and disor<strong>de</strong>r, authenticity and inauthenticity, reality and<br />
unreality, power and impotence, even being and nothingness.<br />
Clearly, the dominance of the centre and its imprimatur on<br />
experience must be abrogated before the experience of the<br />
‘periphery’ can be fully validated (ASHCROFT et al.,1989, p.<br />
88)].<br />
Obviamente, tratando-se <strong>de</strong> uma resistência discursiva, a mímica e a paródia<br />
não constitu<strong>em</strong> somente da imitação da fala ou <strong>de</strong> costumes, mas também <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los<br />
europeus <strong>de</strong> cultura, especialmente a escrita e a literatura. No subtítulo ‘reescrita e<br />
releitura’ mais adiante, a discutimos sob um novo olhar lançado sobre as obras do<br />
colonizador.<br />
A <strong>de</strong>finição dada por Bhabha à mímica r<strong>em</strong>ete à apropriação e marginalização<br />
do outro e a um sinal <strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediência à disciplina, ou seja, <strong>de</strong> resistência, porque as<br />
palavras do amo tornam-se fonte <strong>de</strong> hibridismo e po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>monstrar a realida<strong>de</strong> nele<br />
contida, até então mantida obscura. A mímica é, assim, a <strong>de</strong>núncia do inapropriado que<br />
compõe uma ameaça imanente às normas e disciplina do po<strong>de</strong>r imposto. Ela não é uma<br />
técnica <strong>de</strong> se harmonizar com o ambiente, mas <strong>de</strong> se camuflar. O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> imitar t<strong>em</strong>,<br />
assim, não um só objetivo, mas muitos, que Bhabha chama <strong>de</strong> ‘metonímia da presença’<br />
(BHABHA, 1998).<br />
48