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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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fazer algo errado’ [won<strong>de</strong>ring when somebody was going to go wrong’], é claramente<br />

mostrado o quanto eles estavam, a cada gesto, sob o comando do hom<strong>em</strong> branco.<br />

É também notável que seus objetivos não podiam ser mais simples: Martha só<br />

queria levar uma vida normal e equilibrada. Ela não almejava enriquecer, mas ser livre<br />

como cidadã para trabalhar. Esta busca a manteve forte e esperançosa o suficiente para<br />

seguir <strong>em</strong> frente. Em outras palavras, isso mostra sua maior resistência, ou pelo menos,<br />

a que <strong>de</strong>u suporte a todas as outras. Todas as atitu<strong>de</strong>s tomadas por ela para se salvar<br />

buscavam este <strong>de</strong>sejo.<br />

A personag<strong>em</strong> Lucy, amiga <strong>de</strong> Martha, mostrou que este <strong>de</strong>sejo não era só<br />

<strong>de</strong>la, mas dos negros <strong>em</strong> geral. Ela já estava no oeste, e escreveu uma carta para Martha<br />

“praticamente implorando a ela para ir ao oeste e juntar-se a ela e seu companheiro <strong>em</strong><br />

São Francisco” [practically begging her to come out west and join her and her man in<br />

San Francisco (PHILLIPS, 1994, p. 74)]. Eles queriam ser pioneiros no oeste, mesmo se<br />

isso levasse muito t<strong>em</strong>po, trabalho e esforço. Eles estavam dispostos a superar todos os<br />

obstáculos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que foss<strong>em</strong> livres. Este senso <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong><br />

(community building) po<strong>de</strong> ser visto como um dos tipos <strong>de</strong> resistência mencionados<br />

anteriormente. Tal esforço compreen<strong>de</strong>-se pela<br />

potencialida<strong>de</strong> do nativo para fomentar a comunida<strong>de</strong>, o<br />

altruísmo, a reconciliação e a inclusão. De fato (o colonizado)<br />

<strong>em</strong>penha-se <strong>em</strong> construir a comunida<strong>de</strong>: promove encontros <strong>de</strong><br />

nativos, acolhe as pessoas excluídas, unifica a nação, e é elo <strong>de</strong><br />

união na família (...). A ‘africana’ Martha, no romance Crossing<br />

the River (1993), <strong>de</strong> Caryl Phillips, contrapõe-se ao capitão<br />

inglês do navio negreiro, e constrói comunida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> todos os<br />

ambientes e circunstâncias <strong>em</strong> que ela se encontra (BONNICI,<br />

2005, p. 20).<br />

Isto significa que os negros também queriam sua socieda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> as pessoas<br />

pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> trabalhar e ninguém tivesse po<strong>de</strong>r sobre a outra. Eles sonhavam viver numa<br />

relação sujeito – sujeito, <strong>em</strong> que todos vivess<strong>em</strong> seu papel s<strong>em</strong> a interferência <strong>de</strong><br />

‘proprietários’. Em suma, apesar do <strong>de</strong>scrédito <strong>de</strong> seus amos, eles seriam todos ‘norte-<br />

americanos’, não tinham ainda sua própria terra e precisavam transformar aquela <strong>em</strong><br />

que estavam <strong>em</strong> seu lugar. Os negros queriam equiparação com os brancos <strong>em</strong> todas as<br />

áreas da vida <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong>, pois eles estavam na mesma condição <strong>de</strong> trabalhador do<br />

branco.<br />

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