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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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exageradas e mostram um capitão romântico e solitário. As cartas relevam, assim, um<br />

outro lado do Hamilton escravagista estereotipado, ou seja, o negociador inescrupuloso.<br />

Percebe-se uma mensag<strong>em</strong> conflitiva a respeito da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da personag<strong>em</strong>.<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que se comporta cruelmente <strong>em</strong> relação aos escravos e a seus<br />

subordinados, se en<strong>de</strong>reça à mulher com ternura e mansidão.<br />

Abre-se então a possibilida<strong>de</strong> para a discussão do ‘entre-meio’, para a visão<br />

‘do outro lado (do rio)’ que quebra o entendimento quase unânime do branco como<br />

personificação do mal quanto ao evento da escravidão. Está aí, mais uma vez, a<br />

exposição que Phillips faz das pessoas como sujeito, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> sua orig<strong>em</strong>, no<br />

que tange sua inerente contradição.<br />

3.4.5 Conclusão<br />

Po<strong>de</strong>-se ver, portanto, que uma visão unilateral do processo <strong>de</strong> escravidão e<br />

imperialismo europeu é, no mínimo, ingênua que não leva <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a<br />

complexida<strong>de</strong> do assunto e Caryl Phillips, <strong>de</strong> uma forma ao mesmo t<strong>em</strong>po sutil e eficaz<br />

nos mostra isso claramente. São explícitos os traços (<strong>em</strong>bora marcantes) <strong>de</strong> toda uma<br />

História na vida das personagens do romance.<br />

A subjetivida<strong>de</strong> do negro parece tímida – cantos, tentativas <strong>de</strong> rebeliões e<br />

armas escondidas – e percebida apenas subliminarmente nas palavras do capitão.<br />

Contudo, esta é a s<strong>em</strong>ente da subversão <strong>em</strong> meio à heg<strong>em</strong>onia, minando o monolitismo<br />

branco.<br />

Tanto a obra como um todo quanto este capítulo <strong>em</strong> particular mostram a<br />

predileção por parte <strong>de</strong> Phillips pelos textos não convencionais ou racistas. Ele não se<br />

ren<strong>de</strong> à narrativa da vítima ou à do branco como uma simples contraposição entre o b<strong>em</strong><br />

e o mal.<br />

As narrativas das outras personagens são uma prova disso: também não há<br />

con<strong>de</strong>nação para elas. Edward (The Pagan Coast) explorou Nash e o utilizou para um<br />

projeto pessoal, mas sua cegueira diante <strong>de</strong> seus atos, crendo que praticava o b<strong>em</strong>, o<br />

absolveu. Os Hoffman (West) tratavam b<strong>em</strong> sua escrava Martha, mas quando foi<br />

necessário não titubearam quanto à <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> vendê-la. Do mesmo modo, seu<br />

envolvimento no acúmulo <strong>de</strong> riqueza por meio da escravidão tornava-se imperceptível<br />

diluído numa socieda<strong>de</strong> que tomava este fato como algo natural. Joyce (Somewhere in<br />

England), apesar <strong>de</strong> se relacionar <strong>de</strong> igual para igual com um negro, <strong>de</strong>pois concorda<br />

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