Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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A articulação <strong>de</strong> Fanon dos requisitos básicos <strong>de</strong> uma cultura<br />
nacional foi suficient<strong>em</strong>ente rigorosa para antecipar uma das<br />
posições mais radicais <strong>de</strong> nossa crítica cont<strong>em</strong>porânea.<br />
[Fanon’s articulation of the basic requir<strong>em</strong>ents of a national<br />
culture was sufficiently rigorous to have anticipated some of the<br />
most radical positions of our cont<strong>em</strong>porary criticism<br />
(ASHCROFT, 1999, p. 159)].<br />
Um ex<strong>em</strong>plo relevante da prática radical e rigorosa <strong>de</strong>fendida por Fanon foi o<br />
Movimento Mau Mau ocorrido no Quênia, como resultado das tensões políticas,<br />
econômicas e raciais com a aparente falta <strong>de</strong> soluções pacíficas com o império britânico,<br />
que ocuparam aquele país <strong>de</strong> 1952 a 1960. Os veteranos <strong>de</strong>ste movimento <strong>de</strong><br />
in<strong>de</strong>pendência se auto <strong>de</strong>nominavam ‘exército da terra e da liberda<strong>de</strong>’.<br />
Em 1951 a União Africana do Quênia apresentou uma série <strong>de</strong> exigências à<br />
Inglaterra – <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a abolição das leis discriminatórias até a inclusão <strong>de</strong> representantes<br />
negros no Conselho Legislativo que governava as colônias. Não sendo atendida, um<br />
comitê central foi organizado <strong>em</strong> Nairobi que formou tropas para reforçar sua posição<br />
política, proteger seus m<strong>em</strong>bros e matar informantes e colaboradores. O movimento<br />
ganhou força por todo o país e oponentes eram mortos à luz do dia, casas <strong>de</strong> europeus<br />
eram queimadas, além <strong>de</strong> ser usado como pretexto para cometer excessos contra<br />
suspeitos. As armas e a estrutura organizacional britâncias foram utilizadas para<br />
impl<strong>em</strong>entar o exército Mau Mau. Muitas atrocida<strong>de</strong>s foram cometidas por ambos<br />
colonizadores e colonizados.<br />
Neste processo <strong>de</strong> invasão que também compreen<strong>de</strong> a pilhag<strong>em</strong> e <strong>de</strong>vastação<br />
da colônia <strong>em</strong> todos os aspectos, o colonizado fica preso a uma imobilida<strong>de</strong> colonial<br />
que só po<strong>de</strong> ser quebrada, segundo Fanon, com a violência, que, neste caso, v<strong>em</strong> a ser a<br />
força purificadora, que liberta sua nação do parasita da metrópole.<br />
A nação colonizadora vê a colônia como parte <strong>de</strong> seu país e a saqueia como se<br />
fosse uma simples extração <strong>de</strong> uma extensão <strong>de</strong> seu território. Com um ato consciente<br />
por parte do colono, ele po<strong>de</strong> pôr fim à história da colonização, equilibrando as forças<br />
contrárias (colonizador x colonizado), <strong>em</strong> que os opostos se vê<strong>em</strong> como ‘totalmente<br />
outro’, ou seja, <strong>completa</strong>mente diferente <strong>de</strong> si e perfeitamente s<strong>em</strong>elhante ao mal.<br />
Inevitavelmente, a contraposição <strong>de</strong>stas duas forças resultará violência recíproca, assim<br />
como aquela que já vinha sendo usada pelo colonizador.<br />
Assim, Fanon acredita que como a violência já está sendo <strong>em</strong>pregada, o <strong>de</strong>sejo<br />
<strong>de</strong> aniquilação do colonizador é, ou <strong>de</strong>ve ser, uma reação natural do colono, pois ela<br />
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