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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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trecho acima, além <strong>de</strong> muitos outros, a m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong> Martha a atormentava: “ela se<br />

l<strong>em</strong>brava da postura <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhosa do sobrinho do amo e da voz estrondosa do leiloeiro.<br />

(...) O comprador <strong>de</strong> escravos que tinha testado Lucas com uma vara o comprou por<br />

uma soma suntuosa [She r<strong>em</strong><strong>em</strong>bered the disdainful posture of Master’s nephew, and<br />

the booming voice of the auctioneer. (…) The tra<strong>de</strong>r who had prod<strong>de</strong>d Lucas with a<br />

stick bought him for a princely sum (PHILLIPS, 1994, p. 78)]. Assim, a objetificação<br />

trouxe conseqüências trágicas, <strong>de</strong> sua família Martha não t<strong>em</strong> informações ou contato,<br />

somente l<strong>em</strong>branças.<br />

Ao ser<strong>em</strong> ameaçados pelas l<strong>em</strong>branças e conseqüente tristeza <strong>de</strong> Martha, a<br />

família Hoffman, para seu próprio b<strong>em</strong>, tentou evangelizá-la. Isto faria com que ela<br />

servisse ao mesmo <strong>de</strong>us que eles, ou seja, tornar-se-ia mais obediente e até grata o que<br />

se ajustaria perfeitamente aos interesses do patriarcalismo e do colonialismo. Também é<br />

relevante o fato <strong>de</strong> o <strong>de</strong>us cristão ser representado pela figura masculina. Contudo,<br />

Martha “[(...) não pô<strong>de</strong> encontrar consolo na religião, e era incapaz <strong>de</strong> se solidarizar<br />

com os sofrimentos do filho <strong>de</strong> Deus quando comparados a sua própria miséria” [(…)<br />

could find no solace in religion, and was unable to sympathize with the sufferings of the<br />

son of God when set against her own private misery (PHILLIPS, 1994, p. 79)]. A este<br />

respeito, é interessante notar como a doutrina <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>, salvação e libertação da<br />

religião cristã se opunha à escravidão, o que <strong>de</strong>nuncia uma incoerência da postura<br />

imperial que oprimia ao invés <strong>de</strong> libertar.<br />

Quanto à figura masculina, sua supr<strong>em</strong>acia aliada ao colonialismo foi tão<br />

internalizada por Martha, que mesmo <strong>de</strong>pois que foge, estando livre, ela adverte<br />

Chester, seu então preten<strong>de</strong>nte, que não podia ter mais filhos. Ela havia aprendido isso<br />

no leilão: as mulheres que não podiam mais engravidar tinham seu preço diminuído e,<br />

apesar <strong>de</strong> Chester estar flertando com ela, Martha, <strong>de</strong> certa forma, se via como se<br />

estivesse sendo comprada. Por outro lado, <strong>de</strong>pois da relação estabelecida, Chester e<br />

Martha eram parceiros (sujeito – sujeito) e viviam felizes juntos, e respeitando-se<br />

mutuamente como pessoas livres, <strong>em</strong> território livre.<br />

Entretanto, mais uma vez a família <strong>de</strong> Martha teve sua vida invadida pela<br />

presença do hom<strong>em</strong> branco. Mesmo estando trabalhando e, provavelmente, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong><br />

disso, pois não se aceitava a ascensão social e econômica do negro, Chester foi<br />

assassinado. Conviver com negros livres já era difícil para aquela socieda<strong>de</strong> branca<br />

exclu<strong>de</strong>nte, mas com negros que ocupass<strong>em</strong> o mesmo patamar na comunida<strong>de</strong> era<br />

inconcebível, já que isso seria prova contun<strong>de</strong>nte do erro da escravidão, pois mostrava a<br />

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