Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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cultura, da língua e da religião. Esta m<strong>em</strong>ória comum é que os une como o sinal da<br />
barbárie que o branco lhes fez durante séculos e continua fazendo na<br />
cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>.<br />
Muitas vezes no texto do Epílogo há o registro da palavra: “Sobreviventes”<br />
[Survivors (PHILLIPS, 1993, p. 235-7)], repetidamente usada pelo pai africano. Este<br />
termo não apenas r<strong>em</strong>ete ao t<strong>em</strong>po da escravidão e da abolição (quando os negros<br />
podiam se julgar afortunados porque sobreviveram à subalternância, à brutalida<strong>de</strong> e à<br />
objetificação), mas especialmente à cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>. Na sua larga visão, o pai<br />
africano cont<strong>em</strong>pla algumas metrópoles atuais on<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido à exclusão, os negros<br />
sobreviv<strong>em</strong>, mas não viv<strong>em</strong>. A escravidão t<strong>em</strong> seus reflexos b<strong>em</strong> claros ainda hoje.<br />
Através da re-visão do pai, Phillips revela a sobrevivência e a insegurança do negro <strong>em</strong><br />
meio à pobreza <strong>em</strong> São Paulo, <strong>em</strong> meio à prostituição infantil <strong>em</strong> Santo Domingo e ao<br />
vício <strong>em</strong> drogas no Brooklyn (PHILLIPS, 1993, p. 235-6). O pai africano ainda vê<br />
milhões na precarieda<strong>de</strong> da vida, relegados à ‘morte’ porque a objetificação do negro<br />
ainda vigora <strong>em</strong> muitos países.<br />
Novamente, tais ex<strong>em</strong>plos são apenas reproduções metonímicas <strong>de</strong> lugares e <strong>de</strong><br />
males <strong>de</strong> que pa<strong>de</strong>c<strong>em</strong> os negros espalhados por todo o mundo como resultado da<br />
exclusão proporcionado pelo discurso e pela ação do preconceito branco. Note-se,<br />
todavia, que a resistência não-armada, seguindo o pensamento <strong>de</strong> Arendt, os faz sair do<br />
estado da sobrevivência para enveredar à condição <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o esqu<strong>em</strong>a<br />
igualitário sujeito-sujeito será normal. Se o sujeito negro recorrer à violência armada<br />
(“panic”), o hom<strong>em</strong> branco, representado por Capitão Hamilton, ainda po<strong>de</strong> exibir suas<br />
ameaças e seus instrumentos assassinos. “Se eles não mantiver<strong>em</strong> a calma, os<br />
instrumentos do Capitão Hamilton quebrarão seus pulsos e seus tornozelos” [Only if<br />
they panic will they break their wrists and ankles against Captain Hamilton’s<br />
instruments (PHILLIPS, 1993, p. 235, grifos nossos)].<br />
Segue-se que a repressão contra o negro ainda vigora no limiar do século XXI.<br />
Somente a intervenção do negro pela mímica, pela paródia, pela cortesia dissimulada e<br />
pela prática da negociação e da <strong>de</strong>mocracia, e não pela violência física, trará a igualda<strong>de</strong><br />
e o respeito no convívio da humanida<strong>de</strong>.<br />
Todavia, a experiência <strong>de</strong> revolta contra a ditadura uniu negros e brancos. A<br />
história <strong>de</strong>screve a façanha <strong>de</strong> Toussaint l’Ouverture, a corag<strong>em</strong> <strong>de</strong> negros<br />
estaduni<strong>de</strong>nses lutando na Guerra Civil dos Estados Unidos, a <strong>de</strong>dicação dos soldados<br />
negros no Vietnã e a luta pela <strong>de</strong>mocracia no Haiti contra Papa Doc e Baby Doc. De<br />
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