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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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forma <strong>de</strong> resistência. Deste modo, ela não era apenas um objeto manipulado pelos seus<br />

amos. Ela fica então ciente da <strong>de</strong>cisão sobre mais uma mudança uma s<strong>em</strong>ana antes da<br />

partida: ela seria enviada para o outro lado do rio o que, para ela, era o mesmo que ir<br />

para o inferno, ou seja, para os estados do leste que, ao contrário do oeste, ainda<br />

mantinham escravos. O mais significativo acerca <strong>de</strong>sta cena é que, pela primeira vez,<br />

Martha fala: “Finalmente ela perguntou, ‘quando?’ Ela foi incapaz <strong>de</strong> dizer se o tinha<br />

interrompido” [Eventually she asked, ‘When?’ She was unable to tell whether she had<br />

cut him off by speaking (PHILLIPS, 1994, p. 80, grifos nossos)].<br />

Em virtu<strong>de</strong> disso, ela toma, possivelmente, a <strong>de</strong>cisão mais importante <strong>de</strong> sua<br />

vida: fugir. Em todo o texto, este é o melhor ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> sua resistência e,<br />

conseqüent<strong>em</strong>ente, uma prova <strong>de</strong> que o colonizado t<strong>em</strong> voz, mesmo s<strong>em</strong> falar.<br />

Naquela noite, Martha arrumou sua trouxa e <strong>de</strong>ixou a casa. Para<br />

on<strong>de</strong> ela não estava certa (não importa on<strong>de</strong>) estando ciente<br />

apenas <strong>de</strong> ir para o oeste (ir ao oeste), longe do gran<strong>de</strong> rio<br />

(longe do inferno) e evitar os comerciantes <strong>de</strong> negros que<br />

alegr<strong>em</strong>ente a ven<strong>de</strong>riam <strong>de</strong> volta perto da fronteira <strong>de</strong>ntro do<br />

Missouri. (...) ela sabia que o céu estava repleto <strong>de</strong> estrelas.<br />

(Sentindo-se b<strong>em</strong>).<br />

[That night, Martha packed her bundle and left the house. For<br />

where, she was not sure (don’t care where) being concerned<br />

only with heading west (going west), away from the big river<br />

(away from Hell), and avoiding nigger tra<strong>de</strong>rs who would<br />

gladly sell her back over the bor<strong>de</strong>r and into Missouri. (…) she<br />

knew the sky was heavy with stars. (Feeling good.) (PHILLIPS,<br />

1994, p. 80)].<br />

A reação <strong>de</strong> Martha ex<strong>em</strong>plifica b<strong>em</strong> o tipo <strong>de</strong> resistência não-violenta a que<br />

Arendt se refere. Sua resistência, <strong>em</strong>bora seja silenciosa é eficaz. Além disso sua atitu<strong>de</strong><br />

é realmente significativa para provar como ela s<strong>em</strong>pre foi fiel a seu objetivo. Tudo o<br />

que ela fez foi intencionando ir para o oeste para viver uma vida livre. Ela estava na<br />

busca <strong>de</strong> sua utopia, ou seja, o céu cheio <strong>de</strong> estrelas que estava acima e à frente (oeste),<br />

<strong>em</strong> contraposição ao inferno (leste).<br />

Martha olhou para trás enquanto corria. (Como o vento, garota.)<br />

E então, mais tar<strong>de</strong>, ela viu a aurora anunciando sua audaciosa<br />

chegada e uma Martha s<strong>em</strong> fôlego parou para <strong>de</strong>scansar<br />

<strong>em</strong>baixo <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> salgueiro. (Ninguém é meu dono agora.)<br />

Ela olhou para cima e por entre os galhos ela viu a estrela da<br />

manhã pulsando no céu. Como se tivesse indiferent<strong>em</strong>ente<br />

tentando preservar sua vida no coração <strong>de</strong> um novo dia.<br />

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