Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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Com isso, Phillips, <strong>de</strong> certa forma, também o coloca como vítima do<br />
imperialismo e não o con<strong>de</strong>na, mostrando que um julgamento unilateral do processo <strong>de</strong><br />
escravidão é raso e não supre estudos históricos tampouco literários. Além disso, a<br />
con<strong>de</strong>nação abriria um outro caminho para a exclusão, o que não contribuiria com a<br />
fomentação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> inclu<strong>de</strong>nte. Da mesma forma, a narrativa não exclu<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> Phillips proporciona a percepção da unicida<strong>de</strong> da condição humana e um<br />
conseqüente estímulo à convivência das diferentes i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> forma igualitária. Pela<br />
mesma razão, não há con<strong>de</strong>nação para outras personagens <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o pai negro que ven<strong>de</strong><br />
as crianças, até para Edward, amo <strong>de</strong> Nash, a família Hoffman, patrões <strong>de</strong> Martha, ou<br />
para Joyce, mãe <strong>de</strong> Greer.<br />
A última personag<strong>em</strong>, Travis, aparece propositadamente no fim do último<br />
capítulo – Somewhere in England – para que, <strong>de</strong> forma não-convencional, uma branca –<br />
Joyce – conte a história <strong>de</strong> um negro s<strong>em</strong> que lhe tire sua subjetivida<strong>de</strong>. Além disso,<br />
neste capítulo aparece a personag<strong>em</strong> Greer, filho híbrido <strong>de</strong> uma branca inglesa com um<br />
negro, que figura como símbolo da resistência máxima ao imperialismo – união das<br />
raças <strong>em</strong> um único ser – e prega a não miscigenação para que não haja a contaminação<br />
<strong>de</strong> uma suposta raça pura.<br />
Contudo, apesar da humanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Joyce que se apaixona por um negro e t<strong>em</strong><br />
um filho com ele, ela é <strong>de</strong>sumanizada ao dar Greer para adoção. Do mesmo modo que<br />
ocorre com o capitão Hamilton, Joyce se mostra como sujeito fragmentado, capaz <strong>de</strong><br />
atitu<strong>de</strong>s boas e más e, como ele, e pelos mesmos motivos, não é con<strong>de</strong>nada pelo autor,<br />
tendo sua história apenas registrada s<strong>em</strong> quaisquer juízos <strong>de</strong> valor.<br />
Todas as histórias das personagens converg<strong>em</strong> para um mesmo ponto. Apesar<br />
<strong>de</strong> a escravidão ter acabado e muitos direitos <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> ter<strong>em</strong> sido conquistados, os<br />
negros não têm uma equiparação genuína com o brancos. A socieda<strong>de</strong>, ainda que se<br />
consi<strong>de</strong>re não preconceituosa, não age <strong>de</strong>sta forma e atualmente ainda exclui os negros.<br />
No epílogo <strong>de</strong> Crossing the River Phillips faz alusão a esta exclusão ao mencionar o<br />
Brooklyn, b<strong>em</strong> como favelas <strong>em</strong> São Paulo e no Rio <strong>de</strong> Janeiro e crianças morrendo <strong>em</strong><br />
Santo Domingo. Estes são os resultados da escravidão, da diáspora, com os quais a<br />
cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong> convive diariamente. Nash, Martha e Travis são, portanto,<br />
metáforas das conseqüências e da ampla abrangência da escravidão. Por outro lado, o<br />
pai abraça todos os filhos para apontar para o hom<strong>em</strong> como pertencente à humanida<strong>de</strong> e<br />
não a um grupo distinto pela etnia ou qualquer outra característica.<br />
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