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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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epresentação mais do que dos meios <strong>de</strong> produção que confirmaram a heg<strong>em</strong>onia dos<br />

po<strong>de</strong>res europeus <strong>em</strong> seus respectivos impérios” [it was the control of the means of<br />

representation rather than the means of production that confirmed the heg<strong>em</strong>ony of the<br />

European powers in their respective <strong>em</strong>pires (ASHCROFT, 1998, p. 127, grifos<br />

nossos)]. A atitu<strong>de</strong> das pessoas, o modo como olhavam com estranhamento para um<br />

casal composto <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> negro e mulher branca (no caso <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> branco<br />

com uma mulher negra talvez o entendimento da socieda<strong>de</strong> fosse diferente, mais ameno,<br />

como se ele tivesse o direito <strong>de</strong> usá-la), mostra claramente o sucesso da diss<strong>em</strong>inação da<br />

i<strong>de</strong>ologia eurocêntrica que chega ao absurdo <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r a discriminação contra o negro<br />

àqueles que com ele se relacionass<strong>em</strong>.<br />

O fato <strong>de</strong> o preconceito ser ampliado ao a<strong>de</strong>pto inclu<strong>de</strong>nte da socieda<strong>de</strong><br />

exclu<strong>de</strong>nte é, muito provavelmente, a causa pela qual poucas pessoas aceitam o Negro e<br />

se solidarizam com ele. Apenas uma minoria está consciente e disposta a assumir os<br />

riscos <strong>de</strong> se relacionar com este tipo <strong>de</strong> ‘outro’. Desta forma, a maioria conivente com<br />

os i<strong>de</strong>ais apregoados pelo imperialismo é, na verda<strong>de</strong>, também vitimizada pela<br />

heg<strong>em</strong>onia branca que ameaça sutilmente com o ostracismo a qu<strong>em</strong> quer que se oponha<br />

a eles. Pois a heg<strong>em</strong>onia é, afinal, “o po<strong>de</strong>r da classe dominante <strong>de</strong> convencer as outras<br />

classes que seus interesses são os interesses <strong>de</strong> todos” [the power of the ruling class to<br />

convince other classes that their interests are the interests of all (ASHCROFT, 1998, p.<br />

116)] para que, neste caso, a expansão e exploração das colônias sejam avalizadas por<br />

todos e efetivamente executadas.<br />

Joyce pertencia a esta minoria e suas atitu<strong>de</strong>s estampam o quanto ela se<br />

diferenciava. Quando da situação do passeio, ela primeiramente expressa seu<br />

pensamento: “eu não me importo com o que os outros falam” [I don’t care what<br />

anybody says (PHILLIPS, 1993, p. 202)], e <strong>de</strong>pois age <strong>de</strong> forma a confirmar sua livre<br />

escolha: “Agarrei seu braço e perguntei se ele gostaria <strong>de</strong> ir ao cin<strong>em</strong>a” [I slipped my<br />

arm insi<strong>de</strong> his and asked him if he fancied going to the pictures (PHILLIPS, 1993, p.<br />

203)]. Está aí, muito evi<strong>de</strong>nte, a agência <strong>de</strong> Joyce. Sua personag<strong>em</strong> <strong>de</strong>monstra traços <strong>de</strong><br />

um sujeito que age segundo seu próprio arbítrio.<br />

Cada vez que o encontro com a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ocorre no ponto <strong>em</strong><br />

que algo extrapola o enquadramento da imag<strong>em</strong>, ele escapa à<br />

vista (...) <strong>de</strong>ixa um rastro resistente, uma mancha do sujeito, um<br />

signo <strong>de</strong> resistência. (...) estamos diante (...) <strong>de</strong> uma estratégia<br />

(...) do momento da interrogação, um momento <strong>em</strong> que a<br />

<strong>de</strong>manda pela i<strong>de</strong>ntificação torna-se, primariamente, uma<br />

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