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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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eles. Alguns nunca tiveram contato direto com europeus e as or<strong>de</strong>ns vinham <strong>de</strong> um dos<br />

seus pares. Em outros lugares, a presença estrangeira era constante, mas não havia<br />

interseção das diferentes esferas da socieda<strong>de</strong> e, <strong>em</strong> outros, a colonização penetrou<br />

profundamente. T<strong>em</strong>os, então, a ‘duplicação’ do sujeito, ou melhor, sua<br />

‘espacialização’. “Isto nos adverte contra a interpretação da diferença cultural <strong>em</strong><br />

termos absolutos e reducionistas” [(...) It warns us against interpreting cultural<br />

difference in absolute or reductive terms (LOOMBA, 1998 p. 178)].<br />

Então, o estudo da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do colonizado não po<strong>de</strong> tomar somente a<br />

<strong>de</strong>spersonalização colonial, mas a assunção <strong>de</strong> uma nova e diferente i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (assim<br />

como, <strong>em</strong> menor escala, é claro, ocorreu com os colonizadores). Caso contrário, a idéia<br />

iluminista do hom<strong>em</strong> como sujeito a influências e modificações fica alienada. É<br />

evi<strong>de</strong>nte que não se po<strong>de</strong> negar que a própria natureza humana dos negros torna-se<br />

questionável sob a questão colonial, já que as características atribuídas a ele pelo branco<br />

são zoomorfizadas: canibalismo, <strong>de</strong>ficiência cultural, intelectual e racial, entre outras.<br />

Amarrada a tais estereótipos <strong>de</strong> primitivismo, <strong>de</strong>generação e <strong>de</strong>slocamento, é difícil que<br />

a presença negra contenha a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, inclusive para os próprios negros.<br />

“Os olhos do hom<strong>em</strong> branco <strong>de</strong>stroçam o corpo do hom<strong>em</strong> negro e nesse ato <strong>de</strong><br />

violência epist<strong>em</strong>ológica seu próprio quadro <strong>de</strong> referência é transgredido, seu campo <strong>de</strong><br />

visão perturbado” (BHABHA, 1998 p. 73) e assim, os negros também se per<strong>de</strong>m <strong>de</strong> sua<br />

própria presença, olhando para si com olhos brancos.<br />

Assim, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é o espaço on<strong>de</strong> se dão os fatos reais. Tal significado da<br />

realida<strong>de</strong> nunca po<strong>de</strong> ser totalmente apreendido, mas o sujeito fechado para outras<br />

socieda<strong>de</strong>s sofre o ‘analfabetismo da imaginação’ pelo qual não se vê o outro, pois se<br />

consi<strong>de</strong>ra absoluto e monolítico. É assim que age o dominador: tentando s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>finir<br />

e qualificar o dominado, s<strong>em</strong> perceber sua própria fragmentação por também estar<br />

sujeitado a algo. Da mesma forma, ao imitar o colonizador, o colonizado fecha as portas<br />

<strong>de</strong> sua própria cultura (SOUZA, 1997).<br />

A questão não se sobrepõe somente <strong>em</strong> alguns aspectos – político, social – mas<br />

o fato é que o sujeito colonial recebe sua <strong>de</strong>finição / <strong>de</strong>limitação a partir <strong>de</strong> fora. Os<br />

negros, dada a violência psíquica a que são submetidos, acabam por se avaliar segundo<br />

critérios dados por brancos, o que reforça o eurocentrismo, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />

com o branco e, acima <strong>de</strong> tudo, o maniqueísmo do branco vs. negro que metaforiza,<br />

respectivamente, o b<strong>em</strong> vs. mal.<br />

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