Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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eação a outras questões <strong>de</strong> significação e <strong>de</strong>sejo, cultura e<br />
política (BHABHA, 2003, p. 83, grifos nossos).<br />
Vê-se, assim, que, por meio <strong>de</strong> sua atitu<strong>de</strong>, ela questionava o sist<strong>em</strong>a, e,<br />
opondo-se a ele, buscava sua i<strong>de</strong>ntificação e <strong>de</strong>sejos. Um bom ex<strong>em</strong>plo disso é o fato<br />
<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> aceitar o convite <strong>de</strong> Travis para sair, chegando lá, ela toma a iniciativa <strong>de</strong><br />
convidá-lo para dançar: “Fiquei <strong>em</strong> pé e <strong>de</strong>pois me dirigi aos dois soldados que tinham<br />
me convidado, o alto e o baixo. Perguntei ao alto se ele queria dançar” [I found myself<br />
on my feet and walking towards the two who had asked me, the tall one and the shorter<br />
one. I asked the tall one if he’d like to dance (PHILLIPS, 1993, p. 162)].<br />
Ao ir à festa e ao chamar o soldado negro para dançar, Joyce questiona valores<br />
e crenças aceitas na Inglaterra, o centro imperial, como as mais naturais ou esperadas,<br />
ou seja, ela põe <strong>em</strong> xeque a própria heg<strong>em</strong>onia que influencia o pensamento e subverte,<br />
<strong>de</strong>sta forma, a arma mais potente para sustentar o po<strong>de</strong>r imperial: o mito da hierarquia<br />
das raças (ASHCROFT, 1998, p. 116-7). Nas palavras <strong>de</strong> Bhabha (2003, p. 228), “a<br />
própria forma <strong>de</strong> mudar a base dos conhecimentos, ou <strong>de</strong> engajar-se na ‘guerra <strong>de</strong><br />
posição’, <strong>de</strong>marca o estabelecimento <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> sentido e estratégias <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntificação”.<br />
A tolerância, abertura e percepção <strong>de</strong> Joyce não são apenas vistas <strong>em</strong> seu<br />
relacionamento com Travis. Ela s<strong>em</strong>pre faz valer sua vonta<strong>de</strong>: casa-se com Len,<br />
contrariando sua mãe e, quando da chegada dos soldados, ao contrário das outras<br />
pessoas, ela não se intimida e os recebe naturalmente e conversa com eles na loja, mas<br />
“quando os homens iam <strong>em</strong>bora, os olhos se voltaram para mim. Eu era agora o objeto<br />
<strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong>. O estranho não convidado. (...) Eu olhei <strong>de</strong> volta aos olhos acusadores e<br />
entrei novamente na loja” [once the men had vanished, eyes turned upon me. I was now<br />
the object of curiosity. The uninvited outsi<strong>de</strong>r. (...) I stared back at their accusing eyes<br />
and then stepped back into the shop (PHILLIPS, 1993, p. 129, grifos nossos)].<br />
Como no episódio do baile, ela também vai ao bar e choca a população local:<br />
“Eu acho que eles não esperavam que eu me rebaixasse e viesse ao bar. (...) B<strong>em</strong>, eles<br />
po<strong>de</strong>m pensar o que quiser<strong>em</strong>. (...) Estou só bebendo um drink” [I don’t think they ever<br />
expected to see me lower myself and come into the pub. (...) Well, they can think what<br />
they like. (...) I’m just having a drink (PHILLIPS, 1993, p. 136, grifos nossos)].<br />
Também, sobre a questão da guerra, Joyce mostra que consegue captar mensagens que<br />
ficam propositadamente escusas: “Eu estava ficando boa <strong>em</strong> perceber a diferença entre<br />
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