Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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<strong>de</strong>pois ao filho. Contudo, a sua não-con<strong>de</strong>nação pelo autor para que o movimento<br />
contrário <strong>de</strong> discriminação não seja fomentado é que se torna relevante.<br />
3.6 Epílogo<br />
O Epílogo <strong>de</strong> Crossing the River não é apenas poético, mas <strong>de</strong> tal abrangência<br />
que se esten<strong>de</strong> aos escravos, aos seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, aos mestiços, aos negros<br />
diaspóricos e a todos os que, <strong>de</strong> uma maneira ou <strong>de</strong> outra, encontram-se excluídos num<br />
ambiente monolítico e heg<strong>em</strong>onicamente branco. Os pensamentos, as expectativas e os<br />
<strong>de</strong>sejos do pai africano que ven<strong>de</strong> os filhos na costa da África, apresentado no prólogo,<br />
são assumidas pela técnica literária do fluxo <strong>de</strong> consciência e da prolepse para uma<br />
espécie <strong>de</strong> ‘abraço final’.<br />
Embora o texto tenha apenas três páginas, é <strong>de</strong>nso e <strong>em</strong>ocional porque retoma<br />
as três histórias <strong>de</strong> Nash, Martha e Travis. O lapso t<strong>em</strong>poral é <strong>de</strong> 250 anos, mas o olhar<br />
do pai (“Um pai culpado” [A guilty father (PHILLIPS, 1993, p. 237)]) abrange milhões<br />
<strong>de</strong> pessoas negras diaspóricas que atravessaram o ‘rio’ l<strong>em</strong>brando e se arrepen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong><br />
ter entregue seus filhos para tornar<strong>em</strong>-se escravos. Juntamente com a recordação <strong>de</strong><br />
seus filhos negros, Joyce é incluída. Phillips faz com que o pai a inclua por ela ter<br />
rechaçado a pretensão da heg<strong>em</strong>onia (britânica) branca e ter promovido a inclusão do<br />
negro. “Há duzentos e cinqüenta anos eu ouço. Meu Nash. Minha Martha. Meu Travis.<br />
Joyce” [For two hundred and fifty years I have listened. To my Nash. My Martha. My<br />
Travis. Joyce (PHILLIPS, 1993, p. 236)]. Não é à toa que o nome Joyce esteja <strong>em</strong><br />
itálico: como acontece no caso <strong>de</strong> Dorothy <strong>em</strong> Uma Marg<strong>em</strong> Distante e <strong>de</strong> Dr. Johnson<br />
<strong>em</strong> Foreigners, do mesmo Phillips, dá-se evidência àquele ou àquela que supera o<br />
preconceito e vai contra a correnteza.<br />
Enfatiza-se, mais uma vez, a metonímia dos três irmãos que representam os<br />
filhos negros espalhados pelo mundo inteiro. Devido à escravidão e à diáspora<br />
transnacional, os negros atualmente falam diversas línguas estrangeiras, ou seja, as<br />
línguas dos países que os acolheram como refugiados, como perseguidos, como pessoas<br />
que necessitam <strong>de</strong> estudo e <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego. Por isso o pai africano “ouve o conjunto <strong>de</strong><br />
muitas línguas <strong>de</strong> uma m<strong>em</strong>ória <strong>em</strong> comum” [(...) listens [to] the many-tongued chorus<br />
of the common m<strong>em</strong>ory (PHILLIPS, 1993, p. 235)]. As mais variadas línguas hoje<br />
faladas pelos negros diaspóricos têm um <strong>de</strong>nominador comum, ou seja, a l<strong>em</strong>brança da<br />
África, as atrocida<strong>de</strong>s dos europeus, a humilhação e o <strong>de</strong>slocamento forçado, a perda da<br />
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