Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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como, no caso da língua inglesa, por ex<strong>em</strong>plo, a Índia, o Caribe, a Austrália, a África e<br />
o Canadá. Com isso, o cânone e as idéias dominantes européias foram <strong>de</strong>safiadas.<br />
A literatura pós-colonial iniciou-se com textos produzidos por representantes<br />
do po<strong>de</strong>r colonial que, portanto, não tinham conscientização nacional. Em seguida, os<br />
textos literários eram escritos por sujeitos coloniais ou por europeus sob supervisão e/ou<br />
censura colonial e imperial. Nestes, já se po<strong>de</strong> ver certos indícios da autonomia e<br />
in<strong>de</strong>pendência do sujeito colonial. Por fim, há os textos <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> sujeitos coloniais,<br />
com grau variado <strong>de</strong> diferenciação, até a total ruptura dos padrões eurocêntricos. Estes<br />
<strong>de</strong>ram um distanciamento gradual até a ruptura total com a literatura metropolitana<br />
(ASHCROFT, 1989).<br />
V<strong>em</strong>os hoje, então, a teoria que estuda estas obras <strong>de</strong> cunho pós-colonial. Além<br />
do estudo literário <strong>de</strong>stes textos, a teoria pós-colonial compreen<strong>de</strong> a análise das invasões<br />
territoriais e das instituições (principalmente a língua e a literatura) que os europeus<br />
usaram para o sucesso <strong>de</strong> seus <strong>em</strong>preendimentos; a investigação do discurso imperial e<br />
a objetificação do sujeito colonial; a construção do sujeito no discurso colonial e a sua<br />
resistência; reações contra a colonização européia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVI até o<br />
neocolonialismo cont<strong>em</strong>porâneo caracterizados pela diáspora e a transnacionalização.<br />
Para tanto, a teoria pós-colonial lança mão da releitura e re-interpretação das<br />
obras literárias canônicas européias e analisa os silêncios e lacunas nas narrativas. Além<br />
disso, analisa a reescrita das obras literárias canônicas (que acabam sendo relativizadas)<br />
e probl<strong>em</strong>atiza os pressupostos filosóficos sobre os quais a (<strong>de</strong>s)or<strong>de</strong>m colonial estava<br />
baseada.<br />
Vê-se, assim, que o pós-mo<strong>de</strong>rnismo, produto oci<strong>de</strong>ntal, está envolvido nesta<br />
tarefa, já que ele permeia a socieda<strong>de</strong> e a cultura cont<strong>em</strong>porânea e põe <strong>em</strong> dúvida suas<br />
distinções. Sua estética está ligada à dúvida ontológica <strong>em</strong> que os limites entre as<br />
culturas são tênues e a soli<strong>de</strong>z <strong>de</strong> pressupostos tomados como verda<strong>de</strong> são questionados.<br />
Então, as metanarrativas são criticadas e acabam por per<strong>de</strong>r valida<strong>de</strong> e legitimida<strong>de</strong>. A<br />
verda<strong>de</strong> absoluta não existe para o pós-mo<strong>de</strong>rnismo.<br />
Desta forma, ele t<strong>em</strong> importante papel nesta análise, pois dá relevo à<br />
pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes (consi<strong>de</strong>rando, inclusive, os silêncios eloqüentes), à<br />
in<strong>de</strong>terminalida<strong>de</strong>, à fragmentação textual, à abertura para personagens, para a não<br />
linearida<strong>de</strong> do texto e para o final aberto (como <strong>em</strong> Crossing the River, <strong>em</strong> que não há<br />
uma única personag<strong>em</strong> central e a narrativa é fragmentada). Além disso, rechaça limites<br />
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