Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras
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Apesar <strong>de</strong> sabermos que o mundo colonial é compartimentado, já que o<br />
colonizado foi transformado <strong>em</strong> quintessência do mal (por obra da outr<strong>em</strong>ização,<br />
estereotipag<strong>em</strong> e zoomorfização) e que a colonização tenha trazido o binarismo, a<br />
literatura negra não po<strong>de</strong> ser vista como uma reação contra a ação européia, ou como<br />
uma antítese <strong>de</strong> sua cultura, ou seja, maniqueísta. Ao contrário, ela possui conceitos e<br />
características únicas do pensamento e <strong>em</strong>oção negra que, portanto, a distingu<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />
qualquer outra. Percebe-se, assim, uma cultura própria <strong>em</strong> diversas análises e teorias<br />
sobre a literatura negra.<br />
Entre elas, a teoria sobre a literatura caribenha é a que t<strong>em</strong> rendido mais<br />
estudos e <strong>de</strong>safios. Além <strong>de</strong> importantes questões como a da relevância social e da<br />
língua utilizada, entre outras, a discussão sobre as relações entre os europeus e o<br />
‘nativos’ toma posição central. Isto provavelmente se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> o Caribe ter<br />
sofrido um dos piores tipos <strong>de</strong> colonização, com a aniquilação <strong>de</strong> seus povos nativos e<br />
atrocida<strong>de</strong>s como escravidão, ‘educação’ e evangelização, roubando-lhes não só suas<br />
vidas e sua terra, como também <strong>de</strong>struindo por completo sua cultura. Isto ocorreu<br />
porque a miscigenação, o isolamento <strong>de</strong> escravos <strong>de</strong> suas respectivas tribos (e, portanto,<br />
línguas e culturas), seu comércio <strong>em</strong> lotes <strong>de</strong> grupos ‘misturados’ tornaram-se<br />
praticamente impossível qualquer rebelião. Nas palavras <strong>de</strong> Bonnici (1998, p. 8),<br />
a população atual das Índias Oci<strong>de</strong>ntais veio da África, Índia,<br />
Ásia, Oriente Médio e da Europa através do <strong>de</strong>slocamento, do<br />
exílio ou da escravidão. De todas as socieda<strong>de</strong>s colonizadas,<br />
talvez a socieda<strong>de</strong> caribenha seja a que mais sofreu os efeitos<br />
<strong>de</strong>vastadores do processo colonizador, on<strong>de</strong> o idioma e a<br />
cultura dominantes foram impostos e as culturas <strong>de</strong> povos tão<br />
diversos aniquiladas.<br />
Como resultado, hoje o Caribe consiste <strong>de</strong> um amontoado <strong>de</strong> grupos ‘raciais’<br />
ainda sujeitos à pressão da heg<strong>em</strong>onia européia ou norte-americana. Dentro <strong>de</strong> três ou<br />
quatro gerações após o início da colonização suas línguas e costumes particulares<br />
tinham sido perdidos, isto é, sua ‘voz’ calada, restando a eles a língua do amo.<br />
Por outro lado, eles foram forçados a <strong>de</strong>senvolver a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer-se<br />
enten<strong>de</strong>r entre si, o que causou uma subversão radical na língua do colonizador.<br />
Atualmente, v<strong>em</strong>os isso claramente na reescritura <strong>de</strong> obras canônicas, já que elas, além<br />
<strong>de</strong> subverter<strong>em</strong> a linguag<strong>em</strong>, usam a oralida<strong>de</strong> na escrita.<br />
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