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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras

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3.2.3 Resistência, Subjetivida<strong>de</strong> e I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nash<br />

Apesar <strong>de</strong> na segunda carta <strong>de</strong> Nash já haver traços (já que começa a refletir e<br />

comparar, questionando a verda<strong>de</strong> que tomava como absoluta) do <strong>em</strong>inente processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scolonização no jov<strong>em</strong> negro, é <strong>em</strong> sua terceira correspondência a Edward que já se<br />

vê<strong>em</strong> mudanças significativas. Seis anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> chegar à África, Nash começa a<br />

<strong>de</strong>ixar seus afazeres na escola e na missão evangelizadora e passa a ter o cultivo da terra<br />

como sua principal ativida<strong>de</strong>. Além disso, casa-se com uma nativa e t<strong>em</strong> um filho com<br />

outra mulher, adotando a poligamia. Contudo, o ponto mais relevante é que começa a<br />

consi<strong>de</strong>rar a Libéria como ‘seu’ país.<br />

Todo este processo se inicia com questionamentos sobre o maniqueísmo certo<br />

vs. errado, simbolizados respectivamente pelos Estados Unidos e pela África. “A fim <strong>de</strong><br />

manter a autorida<strong>de</strong> sobre o outro na situação colonial, o discurso imperial esforça-se<br />

para <strong>de</strong>linear o outro como radicalmente diferente <strong>de</strong>le, mas ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>ve-se<br />

manter uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> suficiente com o outro para valorizar seu controle sobre ele” [In<br />

or<strong>de</strong>r to maintain authority over the other in a colonial situation, imperial discourse<br />

strives to <strong>de</strong>lineate the other as radically different from the self, yet, at the same time it<br />

must maintain sufficient i<strong>de</strong>ntity with the other to valorize control over it (ASHCROFT<br />

et al., 1989, p. 103)].<br />

É <strong>de</strong>sta pequena nuance <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que Nash consegue começar a se libertar<br />

da imitação dos padrões americanos. Isto ocorre porque a ambivalência é s<strong>em</strong>pre<br />

mantida já que a mímica “é um processo que nunca é perfeitamente <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhado e há<br />

s<strong>em</strong>pre um <strong>de</strong>slize, uma brecha, entre o que é dito e o que é ouvido” [is a process that is<br />

never perfectly achieved and that there is always a slippage, a gap, between what is said<br />

and what is heard” (LOOMBA, 1998, p. 89)].<br />

Vê-se, portanto, que apesar <strong>de</strong> toda educação e cultura americana que Nash<br />

recebera, havia nele, ainda, algo do sujeito autônomo que não tinha sido totalmente<br />

convertido. Entre outros fatores, ele ainda era negro e talvez essa fosse a marca mais<br />

evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> que ele nunca seria igual aos que imitava. É a partir <strong>de</strong>ste ‘<strong>de</strong>slize’, <strong>de</strong>sta<br />

brecha, <strong>de</strong>sta falta <strong>de</strong> equivalência com o Outro como conseqüência na (im)perfeição da<br />

imitação <strong>de</strong> que Loomba fala, que começa a reflexão <strong>de</strong> Nash. Tal processo também<br />

ocorrera com outros negros que, como ele, haviam sido enviados à África: “Aquele<br />

velho irmão Taylor e a irmã Nancy abandonaram sua religiosida<strong>de</strong>” [That old brother<br />

Taylor and sister Nancy have both lost all religion (PHILLIPS, 1993, p. 29)].<br />

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